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Início do letramento para surdos: um projeto de inclusão e alfabetização em Libras no Instituto Federal de São Paulo no Campus Capivari

A educação inclusiva continua sendo um desafio significativo em nossa sociedade, especialmente quando se trata de grupos historicamente marginalizados, como a comunidade surda. Em Capivari/SP, a falta de apoio para a alfabetização de surdos em sua língua natural, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), tem representado um obstáculo crítico para o desenvolvimento educacional e social desse grupo. Sem uma alfabetização adequada em Libras, crianças, jovens e adultos surdos enfrentam dificuldades iniciais na comunicação, o que compromete seu progresso em outras áreas do conhecimento e dificulta ainda mais sua integração na sociedade.

Reconhecendo essa necessidade urgente, a professora Marília Bortoleto Pires Carvalho, residente em Capivari e surda, decidiu implementar um projeto pioneiro em parceria com o Instituto Federal do Campus Capivari e a Secretaria de Deficiências de Capivari. O projeto, que oferece um curso de letramento específico para surdos, o curso teve início no dia 09 de agosto de 2024, marcando um momento importante para a educação inclusiva na cidade. Desde o primeiro dia, a iniciativa recebeu o apoio de intérpretes qualificados, garantindo que a comunicação entre todos os envolvidos fosse eficiente e que as barreiras linguísticas fossem minimizadas. A presença dos intérpretes tem sido essencial para facilitar o aprendizado dos alunos.

Uma característica marcante do grupo de alunos é a diversidade de faixas etárias. Participam do curso crianças, jovens e adultos, cada um com diferentes níveis de conhecimento e experiência com a Libras e a Língua Portuguesa escrita. Apesar das diferenças, o curso foi estruturado de maneira a ser dinâmico e inclusivo, respeitando as necessidades e os ritmos de aprendizagem de cada aluno. A diversidade do grupo tem enriquecido as aulas, proporcionando uma troca de experiências e saberes que beneficia a todos.

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A metodologia adotada no curso valoriza a Libras como L1 (Primeira Língua) e utiliza a Língua Portuguesa escrita como L2 (Segunda Língua). Essa abordagem busca desenvolver habilidades linguísticas fundamentais em ambas as línguas, mas sempre respeitando o ritmo natural de aquisição de conhecimento dos alunos. O objetivo não é apenas ensinar a leitura e a escrita, mas também promover a autonomia e a autoestima dos surdos, capacitando-os a participar de maneira mais ativa na sociedade.

Além disso, o projeto também se preocupa com a integração social e cultural dos alunos. Ao longo do curso, estão previstas atividades que envolvem a comunidade local, incentivando a inclusão dos surdos em diversos aspectos da vida social e cultural de Capivari. Workshops, palestras e eventos comunitários serão realizados para sensibilizar a população sobre a importância da inclusão e do respeito às diferenças.

O apoio do Instituto Federal do Campus Capivari e da Secretaria de Deficiências de Capivari foi fundamental para a concretização deste projeto. Ambas as instituições abraçaram a causa com entusiasmo, oferecendo não apenas recursos e infraestrutura, mas também incentivo constante para que a iniciativa pudesse ser realizada. A professora Marília, ao perceber a urgência de implementar esse projeto na cidade, encontrou no Instituto e na Secretaria parceiros comprometidos com a causa da inclusão.

Este curso representa um passo importante na direção de uma educação mais inclusiva e acessível para todos. Acredita-se que, por meio desse projeto, será possível reduzir as desigualdades educacionais enfrentadas pelos surdos em Capivari/SP e fortalecer a identidade cultural e linguística dessa comunidade. Mais do que ensinar a ler e escrever, busca empoderar os surdos, permitindo-lhes ocupar seu lugar de direito na sociedade com dignidade e responsabilidade.

Sobre a autora Marília Bortoleto Pires Carvalho: surda desde nascença, é fluente em português e Libras, firmada em pedagoga e especialista em Libras. Professora de Libras há 7 anos, atualmente atua no Instituto Federal de São Paulo. Ensina Libras desde o ensino infantil ao ensino superior, e é professora e coordenadora pedagógica na escola Cersurdo em Piracicaba, atuando também na educação de surdos bilingues, na formação de intérpretes, na capacitação de funcionários em escolas, empresas e principalmente nas famílias que têm surdos.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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