Como repetido à exaustão, que na falta de subsídios de colegas, amigos e afins que venham a contribuir com a coluna semanal, e à falta de fatos novos que mereçam ser publicados, foi necessário me socorrer novamente do livro de Silveira Rocha, fonte inesgotável de pesquisas, que a cada leitura, vou descobrindo fatos que foram relatados por ele, mas que merecem ser relembrados.
Silveira Rocha, relata em seu livro Vida Social e política de Rafard, que após a elevação da Vila Raffard à categoria de Distrito, que se deu em 02 de agosto de 1930, como já tínhamos o cemitério local, o mesmo recebeu a visita para a benção especial de um alto prelado da igreja católica: D. Francisco de Campos Barreto, que era o Bispo da Diocese de Campinas (foto de 1930, publicada pelo Jornal Correio Paulistano e compartilhada por Arnaldo Forti Battagin, no Grupo Rafard – Do Fundo Do Baú).
Numerosos fiéis, prestigiaram a cerimônia fazendo-se presentes. E ao corte da fita inaugural do “campo santo”, o discurso oficial, ficou por conta do sr. Luiz Borghesi, cidadão de grande projeção e ativo nos meios sociais e esportivo da época.
Durante a cerimônia, foram colocados, num local previamente escolhido, sob o cruzeiro, vários objetos, bem como a ata daquela solenidade, que um dia poderão ser recolhidos para satisfazer a curiosidade do nosso povo.
O terreno, que embora pequeno foi doado pela “Société Sucreries Brésiliennes” à Prefeitura de Capivari, para edificação do cemitério local, que demorou 29 anos, ou seja, somente passou a escritura em março de 1959, talvez motivada pela insatisfação com os emancipacionistas, segundo nos relata Pedro Silveira Rocha em seu livro.
Ocorre, que havia a necessidade da inauguração efetiva do cemitério, que somente poderia ser feita com um sepultamento. E o primeiro cadáver, segundo foi acertado, teria suas exéquias e túmulo condigno, onde teria artisticamente gravada a data do feito. Tudo isso feito às expensas da Prefeitura de Capivari, que arcaria com o ônus. Era pelo que está no livro, o desejo do prefeito Alfredo Amaral.
Mas como acontece em todos os casos de inauguração de cemitério, e até nas novelas, o de Raffard não foi diferente, pois parecia que ninguém queria colaborar. E a estreia para receber o primeiro corpo, era adiada.
Ninguém morria. Ninguém queria ser laureado com a honra de ser o primeiro a habitar o chão onde o respeito é a tônica e a meditação um dever. Passaram-se os meses, e depois os anos, e o cemitério ficou como terreno ao abandono, pois se morreu alguém, como de costume a família de pronto, encaminhou para a necrópole de Capivari.
O chão destinado para receber os cidadãos de Raffard, ia perdendo as esperanças de se tornar a mansão dos justos, e já deixava se forrar de gravetos e graminhas, quando um pobrezinho ser – um menino de humilde origem – de nome Lázaro Correia, morreu vítima de broncopneumonia, com apenas 20 meses de idade.
Como relatado acima, estava previsto que o corpinho do pequeno Lázaro haveria de repousar em jazigo comemorativo por ter sido o primeiro para que ficasse registrado nos escritos históricos de Raffard, mas infelizmente, talvez pelo passar dos anos, a promessa acabou não cumprida e o pequeno que poderia passar para a história de nossa cidade, quedou-se no esquecimento, mas foi lembrado no livro de Silveira Rocha, e relembrado aqui.
Nossas homenagens póstumas ao pequenino Lázaro Correia, e que DEUS o tenha em seus braços.