Certa vez, Jesus narra uma parábola, na qual um fariseu, orgulhoso de sua descendência, de sua posição social, e de sua conduta espiritual, com o pensamento de ser justo devido às suas boas obras, foi ao templo. Lá também compareceu um publicano (classe considerada pecadora pelos fariseus).
O primeiro orou em pé, audivelmente: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este cobrador de impostos (referindo-se ao publicano). Jejuo duas vezes na semana e dou o dízimo de tudo o que possuo.”
O Cobrador de impostos, em pé, acusado, achando-se indigno orou, batendo no peito: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador.” Segundo declaração do Mestre, o publicano foi para a casa justificado, mas o fariseu apresentou-se como justo, não pediu justificação. Foi para casa exaltando-se, mas como culpado. (Luc. 18:9-14)
Conforme o poeta lírico, Píndaro, (séc. 5 a.C.) Aesquene (daemon da humildade), foi criada por Prometeu e enviada à terra, e de acordo com Platão, junto com Dice (deusa da justiça). Para Immanuel Kant, filósofo e teólogo (1724- 1804), humildade é a virtude primordial para os humanos porque dá uma perspectiva real da moral.
O filósofo Friedrich W. Nietzsche, (1844-1900) teve ideia oposta à de Kant, para Nietzsche, “humildade é uma falsa virtude que dissimula o orgulho que uma pessoa tem escondido dentro de si.” (Os filósofos são humanos, erram e se contradizem) 17
Recebemos a palavra humildade do latim “humilitas”, significando o reconhecimento de suas próprias imperfeições e deficiências, é uma virtude que caracteriza a pessoa. Diferente do fariseu da parábola, não se julga santo, não se elogia, não coloca o eu em destaque. O humilde não se compara ao proceder de outros, não se vangloria, não se humilha diante dos demais para mostrar humildade.
Embora os dicionários apresentem o termo humilde como sinônimo de pobre, simples, acatador, submisso, esses vocábulos podem significar qualidades diferentes, ou até opostas. Há ricos humildes e pobres orgulhosos. O humilde, cônscio e cristão, não se submete, nem acata as ordens errôneas de patrões ou do governo, contrárias aos ditames de Deus.
Com raras exceções, os mártires da inquisição preferiram a morte a obedecer às ordens eclesiásticas para abjurar sua fé e prática religiosa. Jesus o melhor exemplo de humildade portou-se com dignidade, nunca negou ser rei e Deus.
Sendo Deus tornou-se humano e morreu na cruz, como se fosse o pior dos criminosos para salvar pecadores. (ver Filip. 2:6-8) Contudo, o religioso assíduo às reuniões e com altos cargos na igreja pode ser um fariseu da parábola acima. “A religião do fariseu não toca a alma. Não atenta para o caráter semelhante ao de Deus, nem para o coração cheio de amor e misericórdia. Dá-se por contente com uma religião que só se refere ao exterior”. (E.G. White. Parábolas de Jesus, p. 151)
“Certa vez, Salles Torres Homem, usou o cognome de Timandro para criticar as decisões do governo de D. Pedro 2 quanto às finanças. D. Pedro 2 descobriu o autor das críticas severas, mandou buscar Salles e o convidou para tomar conta do ministério da fazenda.
Salles disse: ‘Senhor, para os grandes crimes, as grandes expiações. Esmagado pela generosidade de V.M., forçado a retratar-me dos erros de uma mocidade petulante, a expiação de meu orgulho não podia ser maior’. Graças à sua humildade, D. Pedro descobriu no crítico Timandro, um talento para servir a Pátria”. Luiz Waldvogel, “Homens que fizeram o Brasil.” D. Pedro 2 era um homem de cultura invejável; é bom lembrar, quanto mais culto, mais humilde deve ser.
Certa feita Jesus, referindo-se aos fariseus e escribas, guardiões e mestres da Palavra de Deus, sentenciou: “Ai de vós, publicanos e fariseus, sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos, e de toda imundícia.
Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e iniquidade.” (Mat. 23 27-28). 45
Quando o filósofo Antístenes (Aristipo segundo outros), discípulo de Sócrates (séc. 5 a.C.), pretendendo parecer humilde, apresentou-se diante do seu mestre, vestido com uma capa já rasgada. Sócrates, olhando para ele disse: “Arístipo, através dos buracos da sua capa posso ver o seu orgulho.” A pessoa humilde não se esforça a fim de parecer, ela é, e os circunstantes saberão dessa sua virtude.
Narciso era um semideus muito belo, que ao mirar sua face apaixonou-se exacerbadamente por si mesmo, e de tal maneira, que nem a belíssima Eco conseguiu o seu amor, e por isso envenenou-o. Narciso morreu no leito do rio.
Dele brotou a linda flor “narciso.” Sigmund Freud desenvolveu o conceito de narcisismo na psicologia para auxiliar clientes cujo sintoma é uma exaltação de si próprio tão pedantesca que se torna um transtorno de personalidade.
Humilde não é se rebaixar e se aniquilar, diante de alguém superior e prepotente. Ele pode usar de sua nobreza, firmeza em suas convicções coerentes com sua consciência, sem ser obtuso e petulante.