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Histórias e memórias do acervo municipal continuam sendo consumidas pelo descaso

Forro despencando no museu municipal Júlio Henrique Raffard (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

As chamas que atingiram e destruíram o Museu Nacional do Rio de Janeiro, no domingo, 2, trouxeram à tona os problemas encontrados por museus em todo o país. Dificuldades financeiras, falhas estruturais e ausência de servidores capacitados estão entre as reclamações mais comuns no segmento.

Em Rafard, não é diferente. Fechado há mais de 5 anos para visitação, o Museu Municipal Júlio Henrique Raffard, no Centro Cívico Major Pires de Campos, vê a história de um povo ser consumida pelas traças e descaso dos governos municipais. Hoje, o espaço é mais reconhecido como a Casa de Leis do que sua verdadeira destinação, guardar a história e incentivar a cultura no município.

A última notícia que remete ao funcionamento do museu municipal, data de março de 2013, quando um conjunto de esculturas do artista Geraldo Albertini passou por restaurações, feitas por Ivênio Pires, na época, responsável pelo espaço.

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O jornal O Semanário teve acesso ao museu que recebe o nome do fundador da cidade, Júlio Henrique Raffard, e constatou o abandono. Peças históricas, fotos, obras e móveis que fizeram parte do desenvolvimento do município, se misturam a sujeira e falta de manutenção do prédio, que em vários pontos, está com partes do forro no chão e outra pendurada nas estruturas.

A Prefeitura de Rafard assume a responsabilidade pelo acervo, mas diz que a manutenção é compartilhada com o Poder Legislativo, que também ocupa o Centro Cívico para uso das sessões camarárias. Em nota, o governo municipal diz que “o estudo já foi feito e as necessidades do Museu já foram levantadas. O que é necessário neste momento é a liberação de recursos através do Governo Estadual e Federal”.

O Executivo também diz estar ciente que o local precisa ser reformado, pois apresenta problemas de infraestrutura, “como a rachadura no teto, por conta disso, o local passará por reforma, para garantir visitas seguras. A Prefeitura pretende fazer o serviço com recursos próprios e para outras melhorias conta com liberação de recursos já solicitados, através de Emendas com deputados”, diz a nota.

Apesar de garantir que o local recebe limpeza periódica e que “as peças estão preservadas da mesma forma como foram repassadas à Administração no começo de 2017”, não é o que pôde ser constatado pela reportagem. Em alguns pontos, percebe-se que documentos e objetos foram atingidos por possíveis infiltrações de água.

Questionada sobre o tamanho do acerto, a Prefeitura alegou que não tem essas informações e que “a diretoria de Cultura está fazendo este levantamento”.

Sobre este mesmo assunto, em agosto de 2017, o governo municipal disse que as peças estavam sendo identificadas e catalogadas. “A limpeza será aprimorada para evitar danos aos objetos, com a reabertura, o espaço terá um funcionário destinado para os cuidados com os objetos”, informou a nota da Prefeitura de Rafard na época, onde também garantiu que trabalhava para o retorno do espaço e já tinha o levantamento de despesas e serviços necessários para a reabertura do museu até o fim daquele ano (2017). O que não aconteceu.

Triste histórico
No país, há 3.879 museus catalogados no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Destes, há diversos relatos de unidades que tiveram que encerrar suas atividades por falta de recursos para se manter ou dificuldades estruturais. Não existe um levantamento oficial sobre museus fechados no Brasil.

Para o diretor do Museu Nacional da República – localizado em Brasília -, Wagner Barja, a falta de incentivo por parte do poder público faz com os museus tenham de optar entre fechar as portas ou funcionar de modo precário.

“A situação é complicada, porque as instituições precisam manter o patrimônio, cuja manutenção não é barata, com verbas reduzidas. O poder público precisa entender que o acervo é uma fortuna, com um imenso valor histórico e valor pecuniário altíssimo. É preciso valorizar os museus”, diz.

Outra dificuldade, segundo o Cofem (Conselho Federal de Museologia), é a burocracia nos repasses feitos às unidades. “As instituições culturais públicas estão presas à estrutura administrativa governamental e, por isso, não são independentes. Quando a verba chega, já desgastada pela burocracia e pelo contingenciamento, nem sempre conseguem administrá-las adequadamente porque já chegam insuficientes”, pontua.

Grande parte dos museus brasileiros são públicos e relacionados a uma esfera – municipal, estadual ou federal. O órgão superior responsável por cada unidade é quem encaminha as verbas para a instituição. Museus particulares também costumam receber verba pública, por meio de leis de incentivo.

O Cofem ressalta que as verbas repassadas aos museus são destinadas somente às atividades básicas para funcionamento do local. “É necessário também haver recursos para o desenvolvimento de novos projetos, visando à adequação das áreas, especialmente para a salvaguarda de acervos que exigem condições especiais de armazenamento.”

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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