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Filosofia Medieval Judaica

Claro, que entre um povo altamente culto, muito mais adiante do que seus vizinhos, em todas as ciências, na moral, medicina, social, também tinham seus filósofos destacados no cenário mundial.

Na Idade Média os filósofos judeus procuravam interpretar os mistérios do mundo, de Deus e dos homens. Uma filosofia mais útil e mais prática do que a dos escolásticos que conjecturam sobre coisas banais, por exemplo: a bondade e outras virtudes existem somente na imaginação ou são substantivos concretos que ocupam espaço (Scott versus Abelardo e Ockham).

A doutora em Filosofia Rosalie Helena de Souza Pereira publicou seu livro com 840 páginas: “Na Senda da Razão – Filosofia no Medievo Judaico”. Para ela a Filosofia Judaica e Árabe Islâmica não podem ser dissociadas da Filosofia Ocidental.

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Ambas receberam influência grega, principalmente a aristotélica, teceram extensos comentários sobre o Corpus Aristotélico e sobre textos de Claudius Galeno (129-217) filósofo, médico cirurgião avançado para o seu tempo, cujos conhecimentos eram referências para a medicina até o século 17.

Moshe Ben Maimon, conhecido como Maimônides e Rambam (1135-1204), descendente de judeu, nascido em Córdoba, hoje Espanha. Era rabino, astrônomo, filósofo e médico com conhecimentos avançados nessas áreas; escreveu dez pesquisas em medicina e vários referentes à relação entre a filosofia e o judaísmo.

Sua obra mais famosa é “Guia dos Perplexos”, baseada na Torá, escrita para os judeus sefarditas (filhos de judeus espanhóis) crentes na Bíblia e na filosofia aristotélica, mostrando que as verdades bíblicas e filosóficas são iguais.

Ele deixou expressos treze princípios religiosos para os judeus e para o mundo cristão, com pouquíssimas modificações: No segundo princípio: a unicidade divina, para ele, é uma só pessoa, enquanto para os cristãos são 3 pessoas com os mesmos poderes, amor, objetivo, eternidade… tal qual um casal (Gênesis 2:24).

Quanto ao 12º, Rambam espera pelo Messias e os cristãos creem que Ele já veio, morreu na cruz e ressuscitou, subiu ao céu de onde virá, não como o Messias, mas como o “Grande Eu Sou.” E no 13º, ambos creem que haverá a ressurreição dos mortos em data indefinida, para os cristãos será na volta do Messias, o Grande Jeová. É de sua lavra: “É melhor e mais satisfatório absolver mil culpados do que condenar à morte um único inocente”
Os escritos de Maimônides são estudados ainda hoje.

Salomón Yehudah Ibn Gabirol, também conhecido, no meio cristão por Acivebron ou Avencebrol (1021-1058) descendente de judeu, que viveu apenas 36 anos, é considerado o maior filósofo neoplatônico árabe e o maior poeta hebreu do período medieval.

Gabirol nasceu em Málaga e não teve vida tranquila. Sua cidade natal sofreu ações violentas por sete anos, durante sua infância e adolescência, mudando-se para Zaragoza, cidade culta e hospitaleira, pôde desenvolver-se intelectualmente. Aí, Gabirol escreveu o belíssimo poema “Aniha Ishi” (Eu sou Homem) como também o poema não menos importante “Nephesh ‘Asher ‘Alu” (Alma que se Eleva).

Ele compôs ainda uma coleção de provérbios, máximas morais, que Márcia Salomão, comentando diz ser seleção de pérolas, um tratado sobre o aperfeiçoamento das qualidades da alma e uma gramática hebraica dedicada aos jovens.

Seu poema mais célebre “El Keter Malkut” (Coroa Real) e a obra em prosa “Fons Vitae” (Fonte da Vida)
Ibn Gabirol e Bachia ben Yoseph Ibn Paquda, nascido em Zaragoza (1050-1120) tentaram racionalizar a ética, buscando integrar a fé à filosofia, mas tiveram a oposição de outros como o filósofo, poeta, médico, judeu Yehudáh ben Samuel Halevi (1075-1141) que rechaçaram a amalgamação com a filosofia grega. Para ele, o judaísmo exerce superioridade sobre a “filosofia grega, a mais perigosa das doutrinas.”

Há muitos outros pensadores judeus e alguns colocam Baruch Spinoza (1632-1677), que embora descendente de judeus, por influência de Descartes tornou-se filósofo racionalista, crítico do judaísmo, ensinou que a natureza é deus, por isto foi excluído do judaísmo; além de estar fora da datação clássica da I.M. (476-1453).

Não há conciliação entre a filosofia grega e a bíblica como pretenderam Gabirol, Paquda e outros, ainda que alguns teólogos e rabinos a tenham recebido e ensinado, um número maior de seus pares tem repudiado, como Oscar Cullmann, Ball Clarke, Samuele Bacchiocchi.

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