Rubinho de Souza

Feliz Ano Novo!

logo do fundo do baú raffardComo poderá o ano novo ser feliz se os homens que promovem as infelicidades continuarem sendo os mesmos?

A Terra, esse pequenino e inocente planeta, cumpriu a sua missão de girar e girou na sua translação ao redor do Sol ou na sua revolução ao redor de si mesma, o que mantém essa pequenina parcela do cosmos em equilíbrio com o próprio universo.

Os homens nasceram os homens morreram, os homens se ajoelharam para plantar sementes, se ajoelharam para falar com as crianças, se ajoelharam para pedir perdão e se ajoelharam para sua própria execução.

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Os homens mataram e roubaram, mentiram e juraram e a maioria dos homens ficou falando de sua verdade particular, individual, do seu interesse próprio, mesquinho.

A verdade está acima do homem que dirige e do homem dirigido, está acima do homem que sabe e do homem que não sabe. A verdade está acima da mulher que gera filhos e da mulher que mata a possibilidade de vida dentro de si. A verdade está acima dos interesses individuais.

A verdade é una, indivisível, é porque é.

O que não é plenamente verdadeiro não é meia verdade. O que não é plenamente verdadeiro é plenamente falso, mas os homens continuaram enganando-se, e continuaram mentindo, e continuaram prometendo.

Ah! Esses homens! Mataram crianças dizendo que defendiam a liberdade e o direito de vida.
Eles chegaram, em determinados momentos, em alguns lugares do mundo, ao crime maior de dar força ao corruptor para corromper.

Eles aperfeiçoaram máquinas, inventaram, parlamentaram, guerrearam para garantir energia para a geração futura que eles mesmos estão matando no ventre materno.

Pelo temor do presente mataram adultos, e pelo temor do futuro matam aqueles que deveriam nascer.

Gastaram fortunas e fortunas para aperfeiçoar uma pílula para matar filhos de quem pode comprar, e investiram para fazer nascer no tubo o ser que destroem na mãe, mas não tiveram dinheiro para matar a fome das crianças pele e osso, que nas esquinas do mundo gritam para todos os lados: – “Eu só quero viver, eu só quero comer, eu só quero vestir, eu só quero ter o direito de chorar, eu só quero sorrir…”

Como poderá o ano novo ser feliz se os homens promotores de injustiças continuarem sendo os mesmos?

Dois mil anos, três mil, quatro mil, cinco mil em termos de tempo cósmico, universal, esse tempo não é nada.

Nosso tempo é muito curto, muito rápido, vertiginoso, veloz, ele passa… e passou.

E nós não temos ainda plena ciência do que somos, de onde viemos e para onde estamos caminhando.

Nós sabemos algumas coisas pelos recados inteligentes, filosóficos, humanos e divinos deixados por Jesus Cristo que, acalmando as intranquilidades, dizia: “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã. A cada dia já basta o seu mal”.

E que propondo coisas mais além, dizia: “Na casa de meu pai existem muitas moradas” e muitas moradas deverão existir porque esta vida aqui embaixo, do jeito que está sendo vivida, seria totalmente absurda. Um nascer, um crescer, um sofrer, um se esmagar, um não se completar e morrer, assim por tão pouco, assim, por quase nada.

Como poderá o ano novo ser bom se os homens promotores de infelicidade continuarem agindo da mesma maneira?

A distinção única, maior, superior, que nos faz diferentes dos outros animais, é a nossa capacidade de raciocínio, e só há uma forma de entendimento universal:

É que se sentem na mesma mesa os homens certos para dialogar, para discutir, parlamentar, sem guerrear e dizer: “O que fazer para melhorar o mundo para as pessoas, para garantir comida para todos os seres que estão aqui embaixo?”

Porque há uma inversão total de posição, as coisas do mundo vão muito bem obrigado, e neste ano que acaba, elas tiveram momentos felicíssimos, as coisas, todas as coisas.

Mas seja verdadeiro, realista, acredite você no que acreditar, vá fazer uma pesquisa na Rússia, nos Estados Unidos, na França, no Japão, na China, no Brasil e você sentirá uma angústia dentro de cada ser humano, que está cada vez menos humano, cada vez menos indivíduo, cada vez menos gente.

Porque, nos parece, que os homens que criaram sistemas políticos, perderam-se no meio do caminho.

E o que é preciso, em termos de mundo, (e este grito é inútil e provavelmente se perderá no vazio), é recolocar o homem como meta prioritária.

A lágrima da criança oriental é igual à lágrima da criança ocidental, pois, as lágrimas das duas são iguais a todas as lágrimas de todas as crianças do mundo porque são salgadas. E sangue é vermelho no mundo inteiro.

Então o que é preciso para melhorar o amanhã de todas as pessoas, é cuidar do presente das crianças de hoje.

Mas, como poderá o ano novo ser melhor? Feliz Ano Novo? Como o Ano Novo poderá ser melhor?

Não se iluda, se os homens promotores de infelicidades continuarem agindo da mesma maneira!

Ah! Mas há uma chance. Há uma possibilidade? Uma…é você, no seu círculo, na sua própria vida, no seu pequeno mundo (porque você tem um limite de ação, você mora em um lugar determinado, trabalha em outro), se diverte noutro.

Você vai e volta, e você tem um círculo, pequeno, médio ou grande, de amizades e este é o seu mundo verdadeiro, de fato.

Se você conseguir melhorar as condições de relacionamento neste seu pequeno mundo, neste mundo (família, trabalho, diversões, amizades), o mundo inteiro ficará menos ruim, consequentemente, obviamente ficará melhor.

Porque você o melhorou no seu pequeno ou no seu grande círculo de relações.

Experimente, tente. Afinal de contas essa vida é sua, é minha, é nossa, e ela passa tão rapidamente, tão veloz, de repente você não está mais, de repente você quer abrir os olhos e não abre mais!

E você não fez nada, e você não viu nada, você não sentiu nada, você não melhorou nada.
Como poderá o ano novo ser feliz se você não for feliz, e como poderá o ano novo ser melhor se você não for melhor?

Que Deus nos ajude a todos para que possamos ter realmente sentido quando lhes disseram uns aos outros Feliz Ano Novo! Feliz Ano Novo! Feliz Ano Novo!

(Conforme improviso de Hélio Ribeiro aos microfones da Rádio Bandeirantes em 31-12-75)

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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