Leondenis Vendramim

Excêntricos ensinos de Jesus

Jesus tinha ensinamentos muito esquisitos para o nosso tempo, pensamentos e atitudes. Cito alguns deles: “Seja, o vosso falar, sim, sim, e o vosso não, não, o que passa disso vem do maligno.” (Mat. 5:37) “Se alguém te bater na face direita, ofereça-lhe também a outra”. Se alguém quiser demandar contigo e tirar a tua túnica deixa-lhe também a capa.” (Mat. 5:39-40) “Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.” Mat. 5:44.

Os ensinos do Mestre Maior quebram os paradigmas do comportamento e da justiça humana. Ao prender um ladrão no ato, prontamente surge um grupo de homens e mulheres pretendendo linchá-lo sem julgamento. Qual crime é maior? “Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.” (João 8:7) Todos pecamos, não temos direito de ultrajar o semelhante. (Leiam as bem-aventuranças exaradas no Capítulo (Mat. 5 1-12)

Paulo soluciona muito bem o problema: “Os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne, mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem na verdade pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”. (Rom. 8: 5 e 7-8) Por “carne” Paulo significa viver segundo os costumes, ímpetos e desejos contrários aos ensinos e à vontade de Deus.

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Novamente recorro a Paulo: “Ora, o homem natural (expressão no sentido de carnal) não compreende as coisas do Espírito de Deus, pois lhe parecem loucura, e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem a tudo, e ele de ninguém é discernido. Pois quem conheceu a mente do Senhor, para que o possa instruí-lo. Mas nós temos a mente de Cristo.” (1 Cor. 2:14-16) Esse é o motivo de acharmos os ensinos de Jesus esquisitos, e até contraditórios ao devido proceder humano.

Analisemos uma dessas instruções. “Se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” (Mat. 5:41) (A tradução bíblica que temos é inglesa, assim 1 milha é igual a 1,60934 Km.

Os judeus foram subjugados pelos romanos sob o comando do General Pompeu em 63 a.D. Imagine um povo orgulhoso de ser escolhido por Deus, liberto sob várias interseções divinas, educado sob a régia lei de Deus, chamado pelo Criador “Meu Povo”, submetido à servidão!

Odiavam aos romanos, cuja lei, autorizava seus concidadãos obrigar um israelita, ir com ele uma milha para carregar seus pertences. O judeu carnal, natural não podia entender o ensino do Senhor Jesus, criticado pelos publicanos e fariseus e não proferido no sinédrio, mas no monte. Você, sob aquela circunstância, compreenderia? Parece uma orientação esdrúxula, contrária ao sentimento geral da nação. Mas era? Jesus conhecia além dos oprimidos servos pela guerra e sabia a solução para tal dilema.

Como servos, eram obrigados a carregar os fardos por 1,6 Km, mas seriam livres e soberanos se espontaneamente levassem por pouco mais de três Km, e resgataria a sua dignidade diante do seu opressor.

Lucas registra o esclarecimento de Cristo: “Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, fizemos somente o que devíamos fazer.” (Luc. 17:10) O servo que cumpre somente com o que lhe é atribuído e dele esperado, faz o papel de servo, continua serviçal. Assim, o funcionário que cumpre seu horário com exatidão e realiza suas tarefas não passa de um funcionário que cumpre o que lhe é devido para aquela função e salário.

O Dr. S. Júlio Schwantes cita a H.E. Fosdick: “O caminho mais seguro para tirar à necessidade ou ao dever o caráter de escravidão é habituar-se de boa mente a fazer sempre que possível, mais do que é pedido. A primeira milha, por si só, não é mais do que faina ingrata. A glória vem com a segunda.” (Colunas do Caráter, 116). É porque lhes parece extremamente penosa a caminhada que nunca chegam à felicidade que os liberta. Iniciativa, inovação, disposição para o trabalho, ir além do expediente eleva o status.

Schwantes faz o seguinte comentário: “Fazendo mais do que o dever impõe, transmutam a obrigação em privilégio e oportunidade. Em vez de escravos das circunstâncias, tornam-se senhores. A imposição de trabalhar não lhes vem mais do exterior. Alcançam a liberdade superior de trabalhar não porque precisam, mas porque querem. Possuídos do espírito da segunda milha, guindam-se acima da tirania do relógio e são senhores do tempo.”

“Aqueles que só estudam porque os pais e mestres o exigem, desconhecem para sempre o encanto e o enlevo da pesquisa feita por amor à verdade, quando ‘a mente do homem é posta em comunhão com a mente de Deus, o finito com o infinito’. A mediocridade dos resultados de estudos feitos sob coerção externa deveria convencer os educadores e os educandos da ineficiência de estímulos outros que não o amor à verdade”. (Ibidem)

Joaquim Nabuco conduzia numa carroça uns escravos comprados do leilão, quando um deles lhe afirmou que não faria nenhum trabalho para o seu senhor. Calmamente Nabuco lhe respondeu: não ser necessário, pois ele lhes comprara para lhes dar carta de alforria. Foi o suficiente para aquele escravo tornar-se seu melhor empregado e amigo. O dever nos impõe, o amor nos constrange.

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