07/04/2017
Ética na Família 4
ARTIGO | Como vimos anteriormente, no conto “A Bela e a Fera”, foi o amor que transformou a Fera num príncipe encantador. O amor é a causa da nossa existência, o motivo pelo qual casamos e se constitui uma família. Amor é a condição para se guardar a Lei de Deus “Quem Me ama guarda os Meus mandamentos” (João 14:15). Deus é amor. (1 Jo 4:8). O Criador nos criou com a faculdade de amar. O amor, portanto deve reinar em nosso lar e em todos os nossos relacionamentos interpessoais e também para com os animais. Amor, nada a ver com paixão. Estes são sentimentos opostos, até antagônicos. São como luz e trevas, onde há amor, desaparece a paixão. A paixão exige que o outro se submeta aos seus caprichos. A paixão é cega, irracional, dissimulada, exigente, ardente, fugaz, egoísta e passageira. O amor é lúcido, racional, transparente, duradouro, o amor dá de si para ver o outro feliz. O filósofo Luiz Felipe Pondé, escreveu o artigo “O gosto do amor” (Folha de S. Paulo, 27/3/17, p. C6, Ilustrada) do qual aproveito algumas citações:
1 – ‘Deus está nos detalhes’ (máxima rabínica). “A falta de atenção aos detalhes torna a pessoa obcecada pela falta de sentido das coisas. A delicadeza é a virtude cognitiva necessária para a percepção do amor”. Nós homens carecemos de sensibilidade e atenção aos detalhes, o que em geral nas mulheres, sobeja. É essa atenção que percebe e desenvolve o amor que vai muito além do romantismo. Mais atenção aos cabelos, ao vestido, aos sapatos, à comida…, ela espera por um comentário (agradável).
2 – “O amor pode morrer no casamento”. O amor precisa dos cuidados cotidianos: atenção, diálogo, compreensão, elogios, perdão, bondade, mansidão, ferramentas que alavancam o amor, enquanto os seus opostos e a crítica o destroem. “O amor pede convívio”. Deus disse “não é bom que o homem esteja só”. Foi por Eva estar só, que facilitou sua perdição; é por separar-se o casal, que a tentação desmorona a felicidade e a confiança mútua.
3 – “A falta de amor gera o ceticismo, a descrença e o sentimento de que amor inexiste. Sem amor a pessoa se torna rancorosa, ressentida, desconfiado até de que ele mesmo não exista para o mundo”.
Kierkegaard (1813-1855) diz que o egoísmo e a hipocrisia são armas que aniquilam o amor. O amor não vê a hipocrisia, “passa por cima”.
O amor só pode existir se for praticado no dia a dia, portanto fale baixo com as pessoas, seja educado (abra a porta do carro para elas, elogie, presenteie, ainda que com uma flor simples), seja agradável, gentil, ame seus familiares e você será considerado o melhor e o mais importante do mundo. O amor não é abstrato, não é teórico, precisa ser concreto, sentido, revelado não só por palavras, mas por atitudes empíricas, por fatos. O amor é declamado pelos poetas, contado pelos romancistas, descrito pelos filósofos, mas não há descrição melhor do que a de S. Paulo em 1Co. 13, que tento parafrasear:
Ainda que eu fale a língua dos anjos e dos mais românticos, se não tiver amor serei como uma batida do badalo num sino. Ainda que eu tenha o dom de profeta, de cura e conheça todas as ciências, que eu tenha a aparência de santidade, saiba todas as doutrinas religiosas se eu não tiver amor, serei sem valor. Ainda que faça caridade (ajuda aos pobres) e dê tudo o que tenho, se não tiver amor, para nada aproveita. Quem tem amor tem paciência com os erros dos familiares, é benigno com eles, não tem ciúmes, pois confia neles, não se engrandece diminuindo a esposa e filhos. Não se comporta inconvenientemente, não se irrita contra quem ama, não fica ressentido. Tudo sofre por amor a eles, não é desconfiado.
O amor não vê os defeitos da amada, assim como a Bela não trocaria a feiura da Fera pela beleza de um príncipe. O mais importante é o caráter, isto é, seu modo de ser é mais do que a beleza exterior, seu eu mais do que as declarações ludibriosas, sua integridade mais do que a sua riqueza. A felicidade não se encontra na beleza tão fugaz, nem nos bens, mas no amor que pode produzir vida em abundância.