DO FUNDO DO BAÚ RAFFARD
era uma casa velha
embriagada de groselha
onde vivia um quintal
com lembranças no varal
havia um mar improvisado
de cascudos beijando o tanque
um passarinho bobo, engraçado
dedurando -“bem-te-vi”- distante
uma espingarda de rolha
caçando bolhas de sabão
uma voraz lagarta de folha
e o arfar ofegante de um cão
havia firmes ganchos de redes
e velhas manchas nas paredes
nelas desenhos tingidos de bolor,
traço do tempo, o obstinado pintor
na casa velha onde eu era criança
olhos meus criavam como Deus
o paraíso dispensava esperança
mas um dia cresci e disse adeus.
Os versos de autoria de Francisco Hoppe, e a pintura do renomado artista Ivênio Pires, retratam fielmente a infância de todos nós que nascemos ou que vivemos em uma casa onde os quintais eram enormes, e pareciam não ter fim para uma criança que tinha o dia todo para explorar cada local novo, ou cada coisa nova encontrada, onde tudo era novidade, tudo era lindo, afinal éramos felizes…
COLUNA de autoria de Rubinho de Souza
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