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Empatia e misericórdia

Empatia é a capacidade ou habilidade de entender e de sentir o que outra pessoa está experimentando. Essa habilidade nos permite compreender a situação de alguém, sua perspectiva ou ponto de vista. É o que ocorre quando vemos uma pessoa triste e experimentamos uma sensação de tristeza, uma sensibilidade diante da dor do outro.

A empatia é fundamental para estabelecer relacionamentos saudáveis, pois cria um ambiente onde há escuta, diálogo e compreensão. O oposto da empatia é a indiferença, que envolve a criação e sustentação de barreiras que impedem a conexão com o outro. A indiferença também pode ser chamada de apatia, que é a falta de resposta emocional diante de uma realidade, como, por exemplo, o sofrimento do outro.

Nos dias atuais, a empatia enfrenta vários desafios, que acabam afetando a capacidade das pessoas de estabelecer uma conexão autêntica com os sofrimentos dos outros. A sobrecarga de informações é um desses desafios, porque diariamente as pessoas são bombardeadas com notícias, imagens e informações sobre tragédias e injustiças.

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Essa exposição constante acaba provocando uma sensação de impotência e distanciamento emocional. Uma tragédia só é notícia enquanto está nas manchetes e nos comentários, o que desperta um interesse momentâneo e depois cai no esquecimento. O distanciamento sistemático leva ao individualismo e ao egocentrismo, em que cada pessoa passa a cuidar apenas dos próprios interesses. Sem empatia, sem misericórdia.

O mistério da Encarnação revela a mais profunda relação de empatia. A Encarnação é o ponto central de um amor empático, em que Deus se inclina para o ser humano e oferece sua vida por ele. Nesse mistério, Deus, em sua infinita compaixão, fez-se homem em Jesus Cristo, assumindo a nossa condição para redimir a humanidade a partir de dentro.

Esse ato de “fazer-se próximo” é a maior expressão de empatia divina, em que o próprio Deus se coloca em nosso lugar, vivendo nossas dores, alegrias e limitações. Essa atitude inspira os cristãos a cultivarem, imitando o amor compassivo de Cristo, que acolhe, escuta e age. A passagem do Evangelho que relata a cura do cego Bartimeu mostra o conflito entre empatia e apatia e, consequentemente, como a ação de Jesus é o modelo para o agir cristão.

Quando Jesus estava saindo de Jericó, encontrou um homem chamado Bartimeu, um cego, que ficava à beira do caminho pedindo esmola. A cena pode ser imaginada a partir daquilo que vemos hoje em dia, com tantas pessoas nas calçadas ou nos cruzamentos das ruas pedindo esmolas ou vendendo pequenas coisas, como balas e doces.

A multidão que acompanhava Jesus sentiu-se incomodada pelos gritos daquele homem e tentava silenciá-lo. Era uma multidão indiferente à dor do homem à beira do caminho. Jesus parou, ouviu e interagiu com Bartimeu, perguntando o que ele necessitava. A cura não foi apenas física; foi uma restauração da dignidade da pessoa caída à beira do caminho. A ação de Jesus interrompeu a indiferença da multidão. Mas será que a ação de Jesus está interrompendo a nossa indiferença?

Nas redes sociais, a empatia parece estar em alta ou, pelo menos, é uma causa de engajamento. Histórias compartilhadas, que mostram momentos de vulnerabilidade, desafios e conquistas, têm um forte apelo emocional.

A vulnerabilidade torna as pessoas mais acessíveis e cria uma conexão emocional, pois muitos enxergam semelhanças entre seus próprios desafios e os desafios do outro. O mesmo ocorre com fotos ou vídeos que apresentam cenas de alegria, dor, momentos engraçados ou com animais de estimação – tudo isso desperta empatia e permite que o espectador “veja” a situação e se envolva emocionalmente. No entanto, para que a empatia nas redes sociais seja genuína, é necessário que ela vá além da reação rápida ou do “curtir” impulsivo, levando à reflexão e a ações concretas.

A misericórdia cristã não é uma simples ação de empatia, como ocorre nas redes sociais. Na passagem de Bartimeu (Marcos 10,46-52), Jesus não apenas ouve o clamor do cego; ele interrompe sua caminhada, chama Bartimeu para junto de si e dialoga com ele.

Esse movimento de Jesus revela o coração da misericórdia cristã, pois ele se deixa interromper e se importa verdadeiramente com o desejo e a necessidade do outro. O gesto de Jesus ensina que a misericórdia não se limita a um sentimento de compaixão ou a um comentário solidário, mas é uma resposta pessoal e comprometida ao sofrimento do outro. A misericórdia cristã implica sair de si, enfrentar o desconforto, ouvir as necessidades e responder com amor transformador.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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