Artigo | Por Marcos Cintra*
Recentemente a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou o resultado do último Programme for International Student Assessment (PISA), programa que avalia a qualidade da educação em vários países. O objetivo desse levantamento é mostrar como as escolas de cada país estão preparando seus jovens para o exercício da cidadania. Ao mesmo tempo, trata-se de um importante indicador que revela como essas nações capacitam a juventude visando promover agentes responsáveis pela geração eficiente de riqueza e de promoção do bem estar social.
Participam da avaliação, realizada a cada três anos, estudantes na faixa de quinze anos de idade. O foco são as áreas de leitura, matemática e ciências. A edição de 2012 contou com 65 países.
A situação do Brasil, como em vários outros indicadores internacionais, é vexatória. Entre os 65 países, ficamos em 58º em matemática, 55º em leitura e 59º em ciências.
Nas três áreas avaliadas o país está abaixo da média dos países da OCDE e a maior parte dos estudantes tem apenas conhecimentos básicos em todas elas. Em matemática, por exemplo, 67% estão no nível 1 ou inferior, ou seja, são capazes de fazer operações básicas e resolver problemas simples. Apenas 1,1% dos estudantes está no nível 5 ou 6, o máximo, de proficiência.
Outro levantamento que mostra o descaso do Brasil com a educação refere-se ao Relatório de Capital Humano do Fórum Econômico Mundial. No índice geral o país está na 57ª colocação em um grupo com 122 países, classificação que é puxada para baixo por conta do 88º lugar no item educação, a pior posição entre as quatro áreas que compõem o indicador. Nações como Equador, Bolívia, Tailândia e Botsuana estão em posições melhores que a do Brasil.
Cumpre dizer que, a situação fica ainda mais dramática para o Brasil com o detalhamento do indicador de educação do relatório do Fórum Econômico. O país fica em 112º lugar na qualidade do ensino de matemática e ciências e na 109ª posição na qualidade das escolas de educação básica.
A educação brasileira continua uma lástima. A falta de compromisso de muitos governantes com a promoção do setor é uma realidade cujo efeito é a contribuição para a proliferação da violência urbana, o desrespeito às normas mínimas de civilidade e o comprometimento da competitividade da produção nacional.
Há muito a ser feito na esfera educacional do país, principalmente no âmbito público. Grande parte dos governantes brasileiros não aprendeu com o sucesso de países como, por exemplo, o Japão e a Coréia do Sul, que investiram pesadamente em educação e hoje colhem os bons frutos dessa iniciativa. No Brasil continuamos negligenciando seu papel como fator de transformação social.
*Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular de Economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único.