14/11/2014
Editorial: Sopro de vida
Quanto mais se cutuca uma ferida, mais ela abre. O que é mais importante: curá-la ou ajudar a adoecer? Nessa linha de pensamento, é saudável lembrar aos nossos representantes do alto escalão que mais importante que criticar é necessário apresentar soluções, buscar uma saída e novas ideias para resolução dos problemas e conflitos. É necessário também deixar o ego de lado e transformar a mágoa em vontade de provar que pode fazer melhor.
Há décadas, Rafard abriga uma das maiores e mais modernas usinas do ramo sucroalcooleiro do Brasil, incluindo, ainda, uma usina de cogeração de energia a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar. E, porque não dizer que, hoje, esta cidade só existe graças aos franceses, que ao adotar este pedaço de chão assumiram também a responsabilidade pelo desenvolvimento não só da usina, como também da cidade e seu povo.
Talvez os mais novos nem saibam, mas por essas bandas já existiu uma estação ferroviária (Fepasa), um cinema, uma lanchonete que reunia gente de tudo quanto é lado, enfim, apesar de pequena, já teve movimento de cidade grande.
Tais lembranças são necessárias para justificar que ao menos nos últimos trinta anos pouco ou quase nada se modificou. Qual o motivo de tal morosidade? Os políticos que por aqui passaram, por muitas vezes, condenaram a falta de incentivo e apoio dos diretores da usina, que já foi União São Paulo e agora é Raízen.
Realmente, pelo porte da empresa, instalada no Centro da cidade e detentora da maioria das terras do município, as colaborações nunca foram a contento. Hoje, porém, com a Raízen (usina) e a Radar (proprietária das terras) – duas das cinco empresas que compõem uma das maiores corporações empresariais do país, a Cosan –, talvez por um novo pensamento administrativo ações de incentivo começam a surgir.
Aos poucos, Radar e Raízen demonstram carinho pela Cidade Coração. Prova disso foi a doação ao município de mais de 17 hectares ao entorno da Capela de Itapeva. E a novidade mais recente, confirmada de maneira exclusiva pelo responsável pela divisão de sustentabilidade da Radar à reportagem d’O Semanário, a doação de 31 hectares em entorno da casa onde nasceu e viveu Tarsila do Amaral, na Fazenda São Bernardo, à empresa Abaçaí, voltada à valorização da arte e da cultura no estado de São Paulo.
Importante ressaltar ainda a preocupação nos termos a serem cumpridos em troca da doação. No caso da Fazenda Itapeva, além da conservação o município deverá abrigar, no próprio local, famílias que tiveram as casas demolidas em outras fazendas; na São Bernardo, cabe à Abaçaí a condição de realizar as obras de restauro, visando à promoção da cultura local e todo seu potencial.
Compromissos importantes para a cidade, que acompanha de camarote os constantes desgastes entre poder Executivo e Legislativo, que na maioria das vezes, não somam em prol do progresso da cidade.
Com parcela do governo municipal, porém, com participação mais efetiva de um grupo preocupado com o desenvolvimento sócio, econômico e cultural do município, hoje, algo que figurava apenas nos sonhos começa a tomar cor e forma. De parabéns a empresa Radar e Raízen, que ao longo dos últimos anos vem demonstrando uma nova visão e compromisso com a cidade. Com certeza, ainda há muito que se fazer, mas é necessário que novas forças surjam, unindo ideias, projetos e soluções, sempre em favor da sociedade, beneficiando a comunidade em geral e, é claro, sem vergonha de pedir.
Invertendo a ordem das palavras, ao que tudo indica o coração da cidade volta a bater, com novos sinais vitais, novos caminhos. Sinais de um futuro promissor para a cidade, para a comunidade e para as pessoas que ainda acreditam no desenvolvimento desta localidade.
O que se espera é que daqui em diante essas ações continuem, e que novos projetos e novas parcerias possam ser realizados em benefício desse futuro que nos aguarda.
O que será que será, só o tempo dirá!
