Jornalismo investigativo. Talvez seja hora, ou melhor, esteja mais do que na hora dos jornalistas interioranos orgulharem o ícone Caco Barcellos, que dedicou oito anos de sua vida para uma única investigação jornalística: as mortes causadas pela Polícia Militar de São Paulo.
Mas deixemos de lado, neste texto, a violência e as matérias policiais. Agora o assunto é outro. Jornalista que prestou atenção às aulas na faculdade sabe que a função do repórter é investigar, apurar, saber a verdade e noticiá-la, custe o que custar, em benefício do povo. No entanto, parece que os assessores de imprensa, pelo simples fato de o serem, não fizeram a lição de casa ou esqueceram tudo o que o mestre ensinou.
O fato é que cada dia está mais difícil o relacionamento entre repórter e assessor. Pelo menos no interior. É assessoria que responde o que quer, ou não responde nada, se mantém omissa, leva para o lado pessoal.
Ouvimos dizer que na capital os jornais de grande porte não estão nem aí para os assessores de imprensa. Passam por cima, sem dó nem piedade, e quando estes se dão conta, a matéria já está publicada, a fonte já disse tudo o que (não) podia e os segredos mais obscuros, guardados a sete chaves pelo setor de Comunicação foram ditos aos quatro ventos. Eles estão certos ou nós que somos simpáticos demais?
O jornalista não deve nada ao assessor e vice-versa. Pelo menos deveria ser assim. Até porque, quando a conversa é diretamente com a fonte, a informação é uma. Quando passa pela assessoria, a situação fica uma maravilha: toda prefeitura é perfeita, toda secretaria trabalha, todo projeto funciona. Quiçá fosse assim.
Verdades maquiadas? Não sabemos. Só temos certeza das inúmeras horas perdidas, que poderiam ser dedicadas numa boa pauta, à espera de um e-mail que demora a chegar, e quando vem está repleto de palavras bem-boladas e informações que não relevam nada de significativo.
Mas é claro. O Brasil está tão bom, não é? Só coisas boas acontecendo, políticos que trabalham tão somente pelo povo, sem interesses. Pelo menos é o que tentam mascarar em propagandas na tevê.
Por outro lado, os veículos de comunicação dependem de anúncios do poder público, de empresas, de comércios e instituições para sobreviver, os quais se utilizam da situação para tentar impedir que certas informações sejam divulgadas. E há quem diga, em 2014, ano em que o Golpe Militar completou 50 anos, que a censura não existe mais. Mas, se enganam os que pensam, ignoram ou desconhecem a força de um veículo de comunicação sério, que em muitos momentos tem que se resguardar, por ser uma empresa como outra qualquer, porém, é como se fosse uma bomba prestes a estourar.
A ignorância de algumas assessorias vai tão longe a ponto de questionar a quantidade de releases não publicados nas edições e as refacções necessárias, feitas tão somente para deixar os textos mais concisos e sem o blá, blá, blá institucional, que interessa apenas a idolatria de seus mandatários.
O filtro dos veículos tem incomodado tanto, que novos sites e jornais “chapa-branca”, ou seja, de politicagem e bajulação de quem está no poder, estão surgindo aos montes. São partidários, com interesses próprios, mas com vida curta. Ainda bem.
Seria de grande valia o investimento do poder público com essas assessorias de imprensa, se elas se preocupassem em comunicar as ações em benefício da sociedade na qual atuam, de forma transparente e social, servindo aos interesses do povo e não como uma equipe que visa à imagem dos que estão no poder.
Apesar do desabafo, a vida deve continuar, afinal, eles vão. A gente fica.