Editorial

Editorial: Dale 2014

Que início de ano é este?

É fato que a cada novo ano renovam-se as esperanças de que as políticas públicas vão melhorar, que as dívidas vão acabar, que vai dar pra comprar aquele tão cobiçado carro zero ou um cantinho pra morar, enfim, colocar a casa em ordem prospectando um futuro a curto prazo bem melhor que o ano anterior.

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O que talvez poucos esperavam é que neste mês de janeiro, um surto de assaltos, furtos e roubos fosse se instalar repentinamente no cotidiano da população, instaurando o vírus da dor, do medo e da insegurança.

Os fatos noticiados na semana passada, mesmo que em proporções menores, se repetiram aqui e em toda região, escancarando a fragilidade dos municípios e do Estado no combate ao crime.

“Big Brother”? Só na TV mesmo. Não se iluda, você, ou melhor, os bandidos não estão sendo vigiados. As câmeras de segurança e a central de monitoramento 24 horas, anunciada na gestão anterior, são um enfeite. Não funcionam e nunca funcionaram como prometido. Uma triste realidade de norte a sul, de leste a oeste do Brasil. Investimentos, ou melhor, desperdícios, como em Goiás e suas 83 câmeras que custaram cerca de R$ 3 milhões e não funcionam. E o que falar do tão querido Distrito Federal e seus R$ 23 milhões. Uma verdadeira farra com o dinheiro público – dinheiro nosso!

Protestar?! Nem isso o povo consegue fazer tranquilamente, já que os “bandidos” dão um jeito de se infiltrar e acabar com o direito pacífico de exigir mudanças. Saqueiam, depredam, partem pra violência e aí apanha todo mundo. Pronto, o ato é marginalizado e perde o seu poder legítimo de cobrança para ganhar manchetes de vandalismo e destruição. Sem esquecer de que sobra até para a polícia, que ao reagir de forma rígida, é criminalizada por boa parte da população.

Parafraseando o rei Roberto Carlos, “eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer…”, somos obrigados a nos calar momentaneamente para dar espaço a outro assunto que tem feito muita gente repensar qual o real benefício de Rafard abrigar uma usina de cana-de-açúcar. Motivo?! Ganância e falta de compromisso com a cidade e sua própria história.

Na última semana, cerca de 60 famílias da Fazenda Itapeva foram notificadas pela Raízen – proprietária das casas – a desocupar as residências no prazo de 90 dias. O que será que pretendem fazer no local? O mesmo que fizeram com a casa do fundador da cidade? Ou o que começaram a fazer com a Fazenda São Bernardo? Hum… tem também a extinta Colônia do Café… será que está faltando espaço pra plantar mais cana?

Qual o compromisso desta superpotência do setor sucroalcooleiro para com a cidade e sua história? Pelo que parece, nenhuma além de explorar a mão de obra barata da pacata “Cidade Coração” e seu povo acolhedor. Povo este que é obrigado a aturar quase que diariamente a fumaça e o cisco das queimadas… a disputar espaço e “comer” terra nas estradas ou trafegar nos defeitos do asfalto causados pelos bitrens e treminhões… a limpar a fuligem do bagacinho da cana trazido pelo vento no quintal das casas… e por aí vai…

O que fazer se pelo que parece os intrusos aqui somos nós, já que a empresa é detentora de cerca de 85% do espaço territorial de Rafard, emprega em média 30% da população e mais de 60% da arrecadação do município vem deles?

São tantas questões a serem respondidas. É certo de que “se Deus é por nós, quem será contra nós?”, mas neste caso, Rafard carece descobrir quem será o seu “salvador”, porque o destruidor já tem nome e endereço.

O ex-chefe de gabinete do executivo rafardense alertou há pouco tempo que “não tem porque esconder e sim encarar essa realidade. Se a usina fechar hoje, Rafard fecha as portas também”. Se o assunto “fechar as portas” não está em pauta, talvez a solução seja escancara-lá de vez aos desejos do “poder”, ou até mesmo, colocar uma placa de “VENDE-SE” na entrada da cidade. Pelo que tudo indica, com comprador certo.

Será isso o que o futuro nos reserva?

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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