04/07/2014
Editorial: Começo ou fim
Emoções tomaram conta de uma semana atribulada na querida “cidade coração”. Terra de Tarsila e ao mesmo tempo, terra de ninguém. Presenciamos o sabor amargo da destruição, seguida de uma açucarada dose de esperança frente à perda de identidade histórica e cultural.
Para alguns, uma triste manhã de quarta-feira, 2. A derrubada de mais uma casa na Fazenda Leopoldina, onde entre tantas famílias residiram os “Quibáo”, e ficou demonstrado que a preocupação para com o patrimônio é particular e financeiro, e não de respeito com a história de um povo.
O fato é legal e legítimo, porém, perante a atual situação em que a cidade se encontra, com um déficit habitacional beirando 700 casas, derrubar outras é no mínimo imoral, ou melhor dizendo, irracional.
O momento reflete a uma falta ou falha na comunicação e planejamento entre poderes público e privado, que deveriam caminhar juntos, rumo ao desenvolvimento e progresso de Rafard, afinal, a valorização mútua beneficiaria todos os envolvidos.
Em contraponto, uma reunião com Andre del Gaudio, responsável pela divisão de sustentabilidade da empresa Radar, proprietária das terras rurais arrendadas para plantação de cana-de-açúcar pela Raízen, transmitiu confiança ao grupo de lideranças participantes.
A primeira boa notícia é que a empresa se propôs a ceder em comodato à Diocese de Piracicaba, por meio da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, a histórica Capela São João Batista de Itapeva, restaurada há pouco pela Radar. A intenção é que a comunidade católica explore e conserve o local e dê oportunidade para que as pessoas conheçam a origem das co-irmãs Rafard e Capivari.
Como era de se esperar, as treze lideranças presentes bombardearam com críticas perante à diversas atitudes e descasos frente ao patrimônio histórico e cultural da cidade, cobranças de mais espaço e diálogo entre as partes, esclarecimentos e, é claro, sugestões e ideias que fortaleçam o relacionamento e propiciem novas oportunidades de conservação e desenvolvimento do município.
O primeiro passo foi dado. Agora a cidade conta com um Conselho Intermunicipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Pedagógico.
Um povo sem memória é um povo sem história. Quiçá ainda haja tempo de resgatar ambos!