Editorial

Editorial- Ato de amor

É quase consenso à dificuldade absoluta de qualquer pessoa tolerar ou aceitar uma determinada crítica. A mesma é vista como um ataque direto a tudo aquilo que a pessoa adquiriu por um longo tempo e com uma dose muito grande de sacrifício e renúncia. O sujeito se sente desnudado, essa é a palavra precisa que define a questão.
A crítica pode tanto reforçar a fé própria do sujeito em seu potencial, como exacerbar uma convicção irreal ou totalitária, ou tirar completamente a autoestima. Até se atingir o ponto genial de uma crítica opinativa atravessamos todo o tormento e mal estar de nos sentirmos humilhados e traídos. Este é o preço a ser pago para conseguirmos desobstruir nossa limitada percepção. Todos enfocam a distinção entre crítica positiva e negativa, se esquecendo que o aspecto mais importante é dizer algo para alguém com real chance de mudança, e a grande tarefa é aferir profundamente quando isso é possível.
Criticar é sem dúvida alguma um dos mais puros atos de amor e compaixão, na medida que mostramos ao outro a possibilidade não apenas de um novo caminho, mas que a pessoa talvez tenha se martirizado a vida toda por um propósito ínfimo. Criticar deveria ser visto como mostrar a coisa mais séria num relacionamento ou comportamento humano.
O ponto principal da crítica é estimular a reação do outro, mostrar que a contrariedade ou raiva pode ser usada para um propósito positivo, lançando o indivíduo numa espécie de solidão introspectiva, reflexiva e criativa. A coisa destrutiva na crítica é quando a mesma apenas reflete um instrumental de manipulação do poder, rebaixando pura e simplesmente todo o acervo do outro, sendo apenas uma arma de competição, isto seria por definição o que se chama de crítica destrutiva. Na verdade, o grande medo das pessoas em relação à crítica é de que a mesma revele a parte de miserabilidade pessoal que tanto teimaram em esconder. A crítica pode se transformar num instrumento da máxima traição justamente quando não é proferida, deixando alguém cego quanto aos vícios e erros de conduta.
Toda crítica perde o efeito ante a uma autoestima bem consolidada. Quando se dá importância ao julgamento feito por outras pessoas é porque ainda não se tem suficiente confiança no julgamento próprio. A crítica mais torturante é a que vem de si mesmo. Uma pessoa em busca de iluminação, antes de tudo, analisa a origem das próprias emoções e sentimentos. Aprende primeiro a amar, a entender, a aceitar, a perdoar e a ser paciente consigo mesma, para assim estar apta a criticar alguém, seja quem for.
Em tempos de protestos e manifestações, em que o ser humano parece ter despertado o senso crítico e entrando em conflito consigo mesmo sobre suas ações e reações, vale a pena refletir!

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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