Que a fase do Flamengo não é das melhores está a vista de todos. Os números e o próprio desempenho escancaram isso – números, aqui, me refiro especificamente aos defensivos, em uma análise simples e quantitativa dos gols tomados e ao desempenho falo de uma análise mais qualitativa, envolvendo toda a complexidade do jogo, nos aspectos técnicos, táticos, físicos e emocionais.
É extremamente injusto e contraproducente comparar o Flamengo de Domenec Torrent com o de Jorge Jesus. E eu poderia fazer um texto enorme discorrendo sobre as diferenças de modelo de jogo, princípios e sub princípios ofensivos, defensivos e de transições, mas isso não é o que mais explica o atual momento do clube.
Na nossa cultura individualista de analisar o jogo o mais fácil é apontar que bastava Domenec dar sequência ao trabalho de Jesus que os resultados e performance seriam os mesmos. Porém se no futebol “antigo” isso até poderia funcionar já que diante de inúmeros talentos o bom técnico era aquele que menos atrapalhava, nos dias de hoje essa análise se torna rasa demais.
O coletivo se sobressai mais do que nunca. E se estamos discutindo algo tão imprevisível, aleatório, complexo e humano como é o jogo de futebol, nunca podemos apontar um único problema e muito menos uma única solução.
Em um ano tão atípico, com o calendário cruelmente apertado e com casos de Covid explodindo em todos os elencos, a análise tem que ter um viés de complexidade ainda mais aguçado.
Que tal se ao invés de falarmos sobre o Jogo de Posição não falássemos sobre relacionamento interpessoal entre Domenec e os jogadores? Ou então se no lugar de só constatarmos a defesa mais exposta não questionássemos se a fome e o espírito do grupo estão sendo tão estimulados como Jorge Jesus fazia? Ou até ampliarmos o debate para a liderança e a comunicação do atual técnico flamenguista, se ela não gera um impacto tão positivo como era com o treinador português?
Que fique claro: sou um apaixonado por tática. Leio, estudo, vou atrás de tudo o que envolve essa vertente do jogo. Mas quanto mais estudo tática mais vejo que só ela não responde a todos os problemas.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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