02/04/2018
DO FUNDO DO BAÚ RAFFARD
Recordações de minha infância
Quando morávamos em Capivari, me lembro bem, como se fosse hoje…papai teve um barco a motor, da marca Johnson na cor verde, e depois de distribuir os afazeres da casa para mim e minha irmã Lisete que naquela época tinha 9 anos, ordenando que enquanto uma iria varrendo a casa, a outra iria tirando o pó dos móveis, disse: -Eu e mamãe vamos até Rafard de bote, e lá pelas 11 horas a gente chega prô almoço…
Eu tinha na época 7 anos e meu irmão Luizinho, que sofreu paralisia infantil tinha 5 anos, e perto das 11 horas, fomos à beira do Capivari espera-los, já que morávamos a duas quadras do rio, na Rua Tiradentes, e também a duas quadras da igreja matriz!
Eu e meu irmãozinho, subimos em cima de um barranco, e logo ouvimos o barulho do motor. Estávamos ansiosos pela chegada de papai e mamãe, e ao chegar perto do barranco, papai desligou o motor do barco, e ele foi usando o remo para encostar na ribanceira, até chegar numa árvore enorme, tão grande que um dos galhos quase chegava nas águas do Capivari.
Então papai pediu pra mamãe se levantar, e se agarrar no galho da árvore e dar um impulso para a frente, para que o barco se encostasse no barranco, e ele pudesse amarrá-lo…
Quando mamãe ficou em pé no barco, e segurou no galho ela deu o impulso com o corpo para trás, e se desequilibrou, e caiu no rio, num lugar que era fundo, um poço…
Ao presenciar aquela cena, eu e meu irmãozinho começamos a chorar e gritávamos para o papai:
– Papai, não deixa mamãe morrer!
Imediatamente ele jogou o remo que tinha nas mãos, e mesmo desesperado esperou a hora exata de agarrar e puxá-la pelos cabelos, que eram bem compridos por causa de uma promessa feita pela vida de meu irmão Luizinho… Papai esperou mamãe submergir por duas vezes, e na terceira vez ele a puxou pelos cabelos, e conseguiu colocar ela com vida no bote.
Até mesmo nosso cachorrinho Catito, saiu do barco e com as patinhas parecia querer ajudar papai a colocar mamãe no barco, e olha que foi muito difícil, pois ela era uma mulher gorda!
Assim, graças a Deus mamãe foi salva por papai e tudo terminou bem, a não ser no dia seguinte, quando mamãe foi levada ao médico porque estava toda inchada da água que engoliu, e o médico Dr. Rolando, não queria acreditar na história porque era justamente o dia Primeiro de Abril!
Mas que a história é verdadeira é, pois eu presenciei tudo, e hoje ao contar a vocês, passou tudo como um filme triste na minha cabeça, mas que graças a Deus deu certo. Ficou a saudades dos meus pais e do meu amado irmão Luizinho que Deus também já levou…
Depois de passado o susto, mamãe sempre comentava que quando eles saíram de Rafard, pelo rio com o barco, para voltar para casa, um amigo deles falou: – Cuidado Mirtho pra Luísa não cair no rio! E papai em tom de brincadeira teria respondido rindo: – Se ela cair eu afundo mais!
Depois desse acidente papai vendeu o bote e o motor e nunca permitiu que meu irmão Zézinho fosse ao rio aprender a nadar, ainda que meu pai Milton ou Mirtho, fosse um ótimo nadador, chegando a salvar muitas pessoas que estavam na mesma situação da minha mãe, pois sempre moramos perto do rio, mas essa é uma outra estória, que fica para a próxima vez…
(Caso verídico relatado por Magda Villares, recordando sua infância, quando morava próximo ao Rio Capivari, época em que era comum o trânsito de barcos, pessoas nadando ou pescando no rio que era limpo e tinha muitos peixes, tanto que muitas famílias usavam a pesca para alimentar suas famílias, e outros com essa atividade alavancavam seu orçamento doméstico)