Rubinho de Souza

Do Fundo do Baú Raffard

09/02/2018

Do Fundo do Baú Raffard

De volta ao passado (capítulo segundo)

Para atender aos afazeres que minha mãe me ordenou, desço de bicicleta a Rua Castro Alves, e entro na rua Abolição, sentido Rafard, antes, porém cumprimento meus vizinhos Décio Santucci e Lésia, que à janela, me acenam com a mão, enquanto o pai deles, Seo Adão, já na calçada, responde ao meu cumprimento com um: – Bom dia filho! E vai em direção à Barbearia do meu pai, onde passam momentos agradáveis contando “causos” como eles mesmo dizem…

Quase toda noitinha, somos nós os filhos mais novos do Carmo que vamos à casa do Seo Adão Santucci, ouvir as estórias de “terror” que Dona Maria, sua esposa nos conta tão bem que parece mesmo que estamos assistindo a um filme…

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Luiz Ferro, nosso vizinho de duas casas para baixo, acabou de sair de sua casa, e sobe em direção ao Bar do Zé Castro, sob os olhares de Dona Santina, que pacientemente o acompanha até a porta e volta cuidar de Dona Bella, sua sogra, que além de muito idosa, não está bem de saúde.

Passo em frente da casa onde nasci, vejo Paulo Bordó descendo as escadas improvisadas que meu pai fez, quando aí moramos. Aí está enterrado meu umbigo, cortado e desinfetado pelas mãos habilidosas de Dona Nadalina, a bondosa parteira que dizem “ter trazido meia Rafard ao mundo…”

Doutro lado moram Seo Rino Pellegrine e Dona Irene, cuja casa é enfeitada na frente pelas flores que chamamos “crista de galo” cujo quintal tem a dimensão de uma chácara, onde criam-se porcos, galinhas e até algumas cabeças de gado.

Logo mais à frente moram a família Ré, e quando vejo a casa deles, um acontecimento que quase termina em tragédia me vem à mente, que foi quando meu irmão Paulo, ansioso para testar uma “garruchinha” que havia trocado com uma bicicleta, colocou uma prancha grossa de madeira para atirar com a sua arma previamente carregada, e depois de dois tiros, e errar a prancha…passados alguns minutos, chega na minha casa o Odir Ré, branco como cera, só fazendo gestos, pois estava sem fala…

Depois de tomar um copo com água e açúcar, diz ele ainda muito assustado que estava no quintal da casa dele, quando algo passou zunindo, raspando sua cabeça…só soube que era tiro pelo barulho que tinha vindo da direção da nossa casa.

Meu pai que até o momento sequer sabia da existência da garruchinha, precavido que era, ao ouvir o relato do menino, num gesto rápido, pegou a arma que ainda estava com meu irmão, que tinha as mãos às costas, e deu um fim nela.

Esse dia mais do que outros, foi de agradecimento a Deus por não ter permitido que uma tragédia ocorresse naquele dia.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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