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Direito e Democracia 21

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

A Igreja Católica nunca deixou a ideia de infalível, com um papa infalível (ao falar “ex-cathedra” e declarar como anátema ou malditos seus dissidentes). O tribunal “Congregação para a Doutrina da Fé”, nome moderno do antigo “Santo Ofício da Inquisição” julga aqueles cujas opiniões diferem do ensino católico. Antes dirigido pelos dominicanos e depois pelos jesuítas, condenava e ordenava ao Estado as execuções. Milhões de pessoas foram serradas ao meio, tiveram seus membros arrancados do corpo, engoliram chumbo derretendo, e outras atrocidades. Em 2000, Joseph Ratzinger, então prefeito desse tribunal, divulgou o “Dominus Jesus” afirmando que só há salvação por meio da Igreja Católica, quando eleito papa, Bento 16 esmerou-se por atrair os “irmãos separados”. Segundo estudiosos, a inquisição ainda está vigorante. Teólogos católicos como Edward Schillebeeckx, Hans Küng, Ivan Illich, Leonardo Boff enfrentaram-na. Boff diz que em 15 de janeiro de 1971, a “Congregação” estabeleceu normas que “cerceiam uma série de direitos humanos consagrados até por sociedades manifestamente ateias”. (Ig. Caríssima e Poder, 67) O Bispo O’ Conor disse: ‘A liberdade religiosa é meramente suportada até que o contrário possa ser levado a efeito sem perigo para o mundo católico’ (Do Im. à Sta Inq., 257). Padre Boff: “Faltam à Igreja de hoje meios políticos para exercer violência contra os acusados de heresias como outrora, mas a mentalidade fundamental e as proceduras pouco mudaram. As torturas físicas foram abolidas, mas perduram ainda aquelas psíquicas, as noites escuras de sofrimento solitário, as perturbações psicológicas, e como ocorreu já, neste século 20, a morte física” (Igr. Car. e Poder, 66). Monsenhor Benigni: “Para essa espécie de humanos há somente um remédio: a inquisição”. (Hitler’s Pope, 36). Francisco Catão e Magno Vilela, dominicanos: “… só uma religião autêntica contribuirá, as outras deveriam ser cerceadas e até dificultadas suas existências pelo Estado, que favoreceria a ‘autêntica’” (Monopólio do Sagrado). Implicaria numa união com o Estado.

A Igreja fala, hoje, como cordeiro, porém essa camuflagem será despida e substituída pela antiga e apropriada carapaça totalitária e intolerante. Previu Ellen G. White: “Visto como Roma (catolicismo) assevera que ‘nunca errou, nem segundo as Escrituras errará jamais’, como poderá ela renunciar aos princípios que lhe nortearam a conduta nas eras passadas” (G.Conflito, 564). “A Igreja papal nunca abandonará sua pretensão à infalibilidade. Tudo o que tem feito em perseguição dos que lhe rejeitam os dogmas considera ela estar direito, e não repetiria os mesmos atos se a oportunidade se lhe apresentasse? Removam-se as restrições ora impostas pelos governos seculares, reintegre-se Roma ao poderio, e de pronto ressurgiria a tirania e perseguição” (Idem 570). “A Igreja de Roma apresenta hoje ao mundo uma fronte serena, cobrindo de justificações” (e pedidos de perdão) “o registro de suas horríveis crueldades”. “Todos os princípios formulados pelo papado… existem ainda hoje. As doutrinas inventadas nas tenebrosas eras são mantidas. Ninguém se deve iludir. O papado que os protestantes se acham tão prontos para honrar é o mesmo que governou o mundo nos dias da Reforma… Possui o mesmo orgulho e arrogante presunção… Seu espírito não é menos cruel e despótico hoje do que quando arruinou a liberdade humana e matou os santos do Altíssimo” (Idem, 576).

Boff diz que há dioceses onde os sacerdotes conferencistas têm de preencher um formulário equivalente a um interrogatório judicial para falar às freiras e sacerdotes. O Santo Ofício mudou de nome, virou Congregação para a Doutrina da Fé, mas não perdeu o hábito da censura: um documento, aprovado pelo papa, escrito em seis línguas, impõe censura prévia a autores, editores e distribuidores de livros escolares. O documento pede aos bispos que verifiquem que os meios de comunicação não causem dano à fé católica… se o fizerem, a instrução do Vaticano é para ‘iniciar as correspondentes ações administrativas ou penais quando forem o caso”. (Do Im. à Sta.Inquisição, 260).

Teólogos, historiadores e jornalistas católicos como Gary Wills, Leonardo Boff, John Cornwell, Enrique Dussel, ou não, como Ellen G. White e muitos outros afirmam que haverá nova inquisição. Não nos abismamos. Daniel e Jesus predisseram (Dn 12:1; Mt 24:9-10); Paulo confirmou (2 Tm. 3:12), João corroborou (Ap 13). Para os estudiosos da Bíblia não é novidade, eles já o esperam, bem como pela recompensa prometida por Jesus: “Se fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida”. Religião é direito do cidadão no estado democrático. Exerçamos! Enquanto não nos proíbem.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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