Nelson Rlihlahia Mandela é considerado “Pai” da moderna África do Sul, livre politicamente e de preconceitos (sabemos que ainda os há, como em todos os demais países, ainda que com menor intensidade). Ele tinha 12 irmãos, além do que, havia muitos outros meninos que moravam em sua casa. Seu pai Nikos Mandela era homem, que não aceitava autoridade dos europeus, apenas da justiça tribal, era “orgulhoso e rebelde”, segundo Nelson. Jonjintaba, tio e tutor de Mandela, chefe tribal e seu primo Alexander Mandela exerceram forte influência sobre Nelson. Depois de concluir os estudos intermediários mudou-se para Alice, Porto Elizabeth onde cursou a faculdade de Direito. Então, formado advogado, transferiu-se para os subúrbios de Johannesburgo, onde defendia os direitos dos menos afortunados. Mandela reclamava que alguns pastores, chefes tribais e missionários disputavam a autoridade sobre negros e brancos mancomunando-se com as autoridades dos europeus dominadores. Também questionava a educação recebida pelas crianças porque era tendenciosa, ensinando-as a serem cordatas e aprendendo “a serem negros ingleses”. Os sul-africanos nativos eram sufocados pelos “colonizadores” (na verdade eram exploradores) embora, segundo estudiosos os africâneres fossem a maioria (68,3% e brancos 20%) (os demais eram asiáticos e mestiços). A criação do Congresso Nacional e do Partido Nacional, instituições multirraciais, com maioria de negros passaram a defender uma sociedade mais igualitária, tinham o fito de derrubar o apartheid, principalmente a lei Jin Crow (vide artigo anterior). O calhamaço de cartas, além de impedir que Mandela ficasse deprimido, susteve sua avidez na luta pela liberdade, paz de seu povo, sem racismo.
Da cadeia, por 27 anos, Nelson Mandela escreveu às suas filhas revelando seu amor e cuidados, motivando-as porque estavam alijadas da presença da sua mãe Winnie, presa, acusada de lutar contra o apartheid de forma radical, incentivando o assassinato. Winnie foi membro do Conselho Nacional da África, deputada, ativista e às vezes expressando-se contrária aos acordos de seu esposo com as autoridades dos brancos. Ele escreveu com veemência ao Departamento de Justiça da África do Sul defendendo-se da acusação de ser comunista: “… nunca fui funcionário, dirigente, membro ou apoiador do Partido Comunista… nego que minha condenação no caso o autorize a incluir meu nome na lista de membros do Partido Comunista… contestarei vigorosamente qualquer esforço de sua parte em fazer isso. Tenho a firme convicção de que a alegação… é um ato de perseguição e manobra… para distorcer minhas crenças políticas e para justificar a remoção do meu nome do registro de advogados”. “… sempre me vi nacionalista… fui influenciado pela ideologia do nacionalismo africano”. “Minha única ambição na vida é, e sempre foi desempenhar meu papel na luta do meu povo contra a opressão e a exploração pelos brancos. Eu luto pelo direito das pessoas africanas de governarem a si mesmas em seu próprio país. Embora eu seja nacionalista, não sou de modo algum racista. Aceito plenamente o principio… do Congresso Nacional… que diz que todas as pessoas independentemente do grupo nacional a que pertençam, têm o direito de viver uma vida plena e livre baseada na mais completa igualdade.” Escreveu uma carta muito comovente para suas filhas Zenani e Zindzi, onde mostra seu amor e cuidados de um pai estremado. Convido-os a lerem (Veja, citada p. 97).
Nelson Mandela viu sua pátria livre e tornou-se seu presidente de 1994-1999. Foi vencedor do prêmio Nobel da paz em 1993. A ONU instituiu o Dia Internacional Nelson Mandela, o dia do seu aniversário (18 de julho) valorizando a luta pela liberdade, democracia, justiça e igualdade. Distinguido pelo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Ali Abdessalam Treki como “um dos maiores líderes morais e políticos. Foi laureado com mais de 250 prêmios e condecorações. Foi recepcionado nos EUA, por Rosa Louise Parks (vide próximo artigo) para receber a “Medalha Presidencial da Liberdade”; recebeu também a “Medalha Benjamin Franklin por Serviço Público de Destaque”. Premiado também, pela então, União Soviética com a “Ordem de Lenin”.
São pessoas com esse naipe que removem obstáculos intransponíveis, transformam a humanidade, são pegadas para seguirmos. O mundo carece desses homens e mulheres, cujo caráter escorreito possa dignificar e elevar a moral. Oxalá os eleitos para dirigir o Brasil e os brasileiros sejam bravos heróis da honestidade, igualdade, arrimos dos necessitados de saúde, segurança, educação e outros direitos humanos elementares. Deus guie os eleitos para o bem de todos!
ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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