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Curiosidades: Portugal e o português 9

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

Ao chegar aqui os portugueses consideravam ter descoberto o Éden e ansiavam por usufruir de suas virtudes: ócio, sexo, longevidade, fartura, saúde…, mas com o tempo começaram a sentir as agruras de uma terra selvagem. À semelhança do paraíso oriental, o Brasil era cercado de animais monstruosos e perigos mil. O Pe. Nivet viu emergir da água uma enorme coisa com grandes escamas no dorso, garras medonhas e cauda comprida avançando para ele de boca aberta, lançando a língua longa como arpão. Gabriel Soares disse ser homem marinho, chamado hipupiara (demônio da água) pelos índios. Esses monstros carregavam jangadas e pessoas para o fundo das águas, mordia-os na boca, nariz e na sua natura. Pe. Pero de Magalhães Gandavo disse que um desses monstros foi morto em S. Vicente em 1564. Tinha aparência de homem na cara, sem cabelos, mas uma armação como de carneiro, revirada com duas voltas, orelhas maiores que a de um burro, cor parda, nariz com quatro ventas, um só olho no meio da testa, boca de orelha à orelha, duas ordens de dentes, mão como de bugio, pés e boi, corpo coberto de escamas (O Diabo e a Terra de Santa Cruz, 51). O padre acima afirmou que o filho de Baltazar Ferreira lutou com um hipupiara de 15 palmos de altura (3,50m) e saiu meio morto. O mar com seus adamastores gigantescos causava pavor. Isidoro de Sevilha Retomando a teratologia de Sto. Agostinho dizia que os monstros se dividiam em 4 famílias: individuais, monstruosos, fictícios e homens-bestas.

Pe. Gandavo, no dia 3 de maio, com grande cerimônia, mandou levantar uma cruz no alto de um monte e para “magoar ao Demônio deu o nome a terra de “Terra de Santa Cruz” (ver Hist. da Prov. Sta. Cruz, 51-53).

Com o tempo, vão os jesuítas e outros padres se desiludindo com o paraíso, e mostram outra realidade: Gandavo dizia que a Terra era “lassa e desleixada” “o vento perigoso e doentio”, “há muitos animais ferozes e cobras peçonhentas”. O Pe. Fernão Cardin nota que há muitas aranhas, lagartixas, pulgas, piolhos, “não faltam baratas, traças, vespas, moscas e mosquitos peçonhentos, que mordendo em uma pessoa, fica a mão inchada por três ou quatro dias”. O Pe. Jerônimo Rodrigues dizia “as pulgas eram a perdição das ceroulas e camisas dos padres” e “às apalpadelas, numa só noite, matou 450 delas, matou 500 grilos e milhares de baratas todos os dias”. Que “viajando, deparou com o rio S. Francisco tão perturbado, que parecia andarem ali visivelmente os demônios, que ali fervia em pulos para o céu que punha espanto”. “Por todo o trajeto procurou o demônio atrapalhar a viagem, não tendo sucesso”, “se meteu numa baleia e tão bravamente nos seguiu pela esteira da canoa que nos enfadou assaz. Ora se aproximando, ora se afastando. A baleia endemoninhada apavorou os padres”. “Eu, contudo, quando a vi tão perto, lancei-lhe um agnus dei”. “Só assim a baleia (demônio) se afastou”. “Quando os inacianos (entre os Carijós) se preparavam para realizar uma missa, Satanás fez sentir sua força”. “Um dia bonançoso, mas quando os padres começaram os preparativos para a missa, houve tal tempestade com raios, vento e chuva, que molhou o altar e lançou a imagem de Nossa Senhora ao chão”. Não cessou a malícia do demônio: “no dia seguinte, milhares de moscas cobriram o altar e o padre – ‘foi coisa pasmosa’ – durante a missa. Indubitavelmente, nas duas ocorrências havia o dedo do diabo: e passado aquele dia nunca mais houve aquelas moscas e tempestades” (O diabo e a T. de Sta. Cruz, 68-69).

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Pe. M. da Nóbrega reclamava ao superior dos Jesuítas da pobreza da terra, da falta de trigo, vinho e azeite e do duro trabalho a realizar, os alimentos da terra eram muito fracos. A terra era infestada de bichos dos pés e muitos outros insetos.

Para os jesuítas os índios eram animais selvagens, sem lei, fé ou religião, cruéis desumanos, fugiam da escravidão tardando o enriquecimento da terra. São “uma canalha”, canibais, polígamos, incestuosos, mas asseados. (Idem 56-57). José. de Anchieta comparava-se a um veterinário (iden,63). O Brasil tornou-se o “purgatório” e inferno. A catequese tinha de “homogeneizar a população a ferro e fogo, misturando sangue, suor e lágrimas dispensando a doçura, não medindo o rigor… nesta tarefa”. Idem, 79). Segundo Pe. Vieira a África e o Brasil eram o inferno dos negros e índios, lugar donde nunca se sai, mesmo após a morte, para pagar seus pecados; mas para os cristãos era a esperança.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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