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Curiosidades: Portugal e o português 4

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

A narração fantástica da viagem de Marco Polo pelo Oriente, durante 26 anos, descrevendo de forma epopeica, as riquezas incomensuráveis, e as maravilhas desses lugares criou nos europeus um imaginário fecundo. Um relato fabuloso, atribuído a Marco Polo diz que Bagdá era uma grande e rica cidade, onde morava o Califa de todos os sarracenos. Califa tinha abundante tesouro: prata, ouro, pedras preciosas, joias… Hulagu, seu irmão, sitiou Bagdá e tomou o tesouro (uma torre cheia) e disse a Califa: “Senhor por que reuniste tantos tesouros? Não sabias que eu era teu inimigo e vinha com poderoso exército? Posto que vejo, amas tanto os tesouros, vou dar-te a comer deles. Califa, come deste tesouro, já que tanto aprecias, nunca mais comerás outra coisa na sua vida”.

O poeta Ovídio escreveu sobre o rei Midas da Frígia (hoje Turquia), um rei muito rico, do século 8 (segundo Aristóteles, o primeiro rei a cunhar moedas), amante de riquezas, cujo hobby era contar moedas de ouro. Diz uma lenda que certa vez Sileno, pai adotivo do deus Baco perdeu-se, mas foi encontrado por Midas que o levou para sua casa e o tratou com benevolência por 13 dias. Então o levou para a sua casa. Pretendendo recompensa-lo Baco ofereceu um dom à escolha de Midas. O rei, sem demora pediu que tudo o que ele tocasse se tornasse ouro e isto lhe foi concedido. No seu regresso tocou um ramo de carvalho, uma pedra, e tudo se tornou ouro. Ficou muito feliz. Ao chegar em casa, ao comer e beber o alimento e a água tornaram-se ouro, ao tocar sua filha, tornou-se ouro. Midas, faminto e sedento, arrependeu-se e pediu a Baco que desfizesse a magia. Baco mandou que se banhasse no rio Pactolo e tudo voltaria ao natural. Assim ele fez e deixou no rio o seu cobiçado dom.

Prodanov escreveu sobre o rei Grã Cã que cunhava moedas da casca da amoreira e selava-as. Anualmente trocava-as por ouro e pedras preciosas.

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Contos sobre o riquíssimo Oriente eram expostos desde o século 11, ao público sequioso pela riqueza e pela aventura. Os relatos mirabolantes coletados de vários autores na obra “Mil e Uma Noites” acendiam ainda mais o desejo aventureiro e de enriquecimento. Uma lenda conta que Ali Babá era pobre e buscava na mata a lenha para seu sustento quando ouviu um tropel de 40 ladrões cavaleiros, armados com espada, em meio à poeira. Escondeu-se numa árvore donde ouviu do chefe: “Abre-te Sésamo”. E uma enorme pedra se moveu abrindo a porta de uma caverna, e nela entraram. Tempo depois saíram da caverna e a voz do líder se fez ouvir: “Fecha-te Sésamo”. E a porta se fechou. Quando o bando foi embora, curioso, à frente da gruta ordenou: “Abre-te Sésamo”. A porta abriu e ao entrar Ali Babá ficou deslumbrado com tanto ouro, pedras preciosas, joias. Ensacou o que pode, colocou sobre suas mulas. Saiu e bradou: “Fecha-te Sésamo”, e a porta se fechou. Foi para casa muito rico.

O que interessava aos ouvintes portugueses era a “existência da incalculável fortuna” naquelas terras cobiçadas. Assim também eram contadas muitas alegorias como a de “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”: Aladim tornou-se riquíssimo, pois, um gênio saia da lâmpada e realizava todos os seus desejos e o protegia todas as vezes que esfregava a lâmpada com as mãos. A fábula tornou-se conhecida através de vários filmes e desenhos animados. O mito de Simbad, o Marujo, que através de viagens oníricas e um tanto epopeica se safa de monstros como cíclopes, cinocéfalos, acéfalos e outros, e se enriquece. Himbad, irmão de Simbad era ávido pela fortuna deste e lutava para tomar-lho. Assim os portugueses daquele tempo, extasiados pelas histórias de tesouros, desejavam toma-los dos orientais, judeus e índios. No século 14, diz Gil Vicente: “o trabalhador é morto, sem presente nem futuro, é pobre. Moças sem dote não podem casar”. Um adágio dizia: “Quem quiser medrar: Igreja, Casa Real ou mar”. Ou seja: quem quiser ser rico deve ser clérigo, viver no palácio real, ou ser viajante ultramarino.

Em 1315 os europeus passaram tanta fome que alguns se tornaram antropófagos; em 1348 a peste negra varreu a Europa; em 1415 os lusos tornaram-se exploradores ultramar e metalista. Alguma coincidência?

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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