ColunistasLeondenis Vendramim

Curiosidades: Portugal e o português

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

O povo português dos séculos 11 ao 16 era muito crédulo, seu imaginário fértil, vorazes de contos, criaram fantasias e crenças. Dom Afonso Henrique conquistou dos sarracenos, na guerra de Ourique (1139) o território e fundou a nação portuguesa, reconhecida pelo papa Alexandre 3º em 1179 com a Bula Manifesto Probatório. Os portugueses criam que antes mesmo do projeto vago da criação do mundo, a fundação de Portugal existia a mente de Deus. Deus desceu à Terra e conversou pessoalmente com D. Afonso Henrique a fim de orientá-lo quanto à fundação do reino de Portugal. O Frei Bernardo de Brito (1519-1617) compôs fraudadamente as “Actas das Cortes de Lamego” com as respectivas fontes. Era um tipo de certidão oficial dos milagres de Ourique e das bases da independência de Portugal. Tal documento foi mais celebrizado do que qualquer outro verdadeiro, tornou-se uma espécie de “Carta Magna de Portugal” nos séculos 17 e 18.

Para os portugueses, eles eram uma nação divina de Deus, com um rei divinizado e idolatrado, povo superior, com uma língua casta, cultura mais elevada, com as bênçãos do papa, sua religião divina e única certa, fora da qual não havia salvação. Era, no seu conceito, um povo predestinado a pregar o evangelho puro para espancar o diabo e arrancar os gentios das trevas demoníacas conduzindo-os à luz de Cristo.

Para alcançar seus objetivos: atingir o coração e a mente dos nativos a serem catequizados, e sujeita-los, usavam roupas pomposas, chapéus, gestuais, pinturas, procissões, músicas, contos milagrosos, bandeiras, gritos de guerra; torturas, guerras e destruições. Exemplo disto foi quando os templários, liderados por Cabral, com 13 caravelas e batéis partiram de Tejo para tomar posse do território do Brasil pertencente aos índios. Estevão J. Pinto e Maria Alice Reis, na obra “Pedro A. Cabral” relata que o clero, os nobres, a burguesia e reis usavam dos aparatos, cerimônias, cores e coreografia para revelar sua dignidade, opulência e realeza. Na partida da frota de oito frades, oito capelães, cada caravela liderada por um mestre templário e todos sob o comando do fidalgo Pedro Álvares Cabral, da mais alta estirpe de Beira, houve uma apoteótica festa sob o sonido das trombetas do Paço, com vivas da multidão. Roberth Soutthey, primeiro historiador do Brasil diz que as caravelas eram enfeitadas com bandeiras coloridas (caríssimas) cuja cena não parecia mar, mas um jardim de flores, ao som de trombetas, gaitas, atabaques, tambores, flautas, etc. No dia seguinte os expedicionários assistiram à missa pelo bispo D. Diogo Ortiz, com a presença do rei que entregou a bandeira oficial da Ordem de Cristo a Cabral. Esses festejos, místicos tinham o objetivo de incutir na mente de todos os espectadores a superioridade política e religiosa do povo português. Era um presságio do sucesso empresarial, pois levavam a aprovação, do rei, do bispo, do papa, e portanto, de Deus.

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Foram esses aparatos (roupa, gestuais, bandeiras, a implantação da cruz, a missa) que usaram para convencer também os índios de sua superioridade. Quando Afonso Lopes trouxe dois índios à presença do Comandante, Cabral estava muito bem vestido, com colar de ouro no pescoço, sentado numa espécie de trono, alto sobre tapete, em sua volta os capitães de naus, engalanados. Diante dos índios, simples, nus, os portugueses esperavam reverência e cortesia, foram frustrados. Os europeus procuraram desde logo incutir na mente dos índios sua superioridade, o medo, e o senhorio português. O Pe. Manoel da Nóbrega disse: “Os índios são porcos nos vícios e na maneira de se tratarem. Na medida em que tenham êxito no atingir o imaginário, podem também plasmar e modelar as condutas (Do Imag. à Sta. Inquisição, p. 46).

Pelo imaginário os europeus procuraram atingir e formar o pensamento dos nativos, incutindo-lhes a civilização nos moldes portugueses. A obediência ao rei e ao papa seria inquestionável, por bem ou à força. Foi assim também que os jesuítas procuraram implantar sua ideologia e sua religião, impondo pelo medo, pelos contos milagrosos, e apoteoses. Assim também, os inquisidores, usaram do seu imaginário para incutir nos naturais e oponentes o seu modo de pensar, a subordinação, suas crenças, e seu “modus vivendi”.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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