Quem não é curioso? Há coleções de livros sobre curiosidades. Se os humanos não fossem curiosos não se venderiam tantos livros sobre o tema. Hesíodo, o grande poeta grego (800 a.C.) contemporâneo de Homero, escreveu “Teogonia” (origem dos deuses) e “Trabalhos e Dias” ( sobre ética) – exalta a Justiça como filha de Zeus, dá normativas ao trabalho, e para a agricultura e para a educação dos filhos. Hesíodo parece ter sido influenciado pelos escritos bíblicos de Moisés (1540 a.C.). Para o grego, no início, havia a Terra, o caos e Eros (veja Gênesis 1:1-2), ele escreveu sobre a origem e a luta sangrenta entre os deuses e contra os homens (Jó 1); Os gregos tinham deus para tudo, possuíam o panteon (todos os deuses), tudo era deus: Urano (Céu), Géia (Terra), criam até mesmo no deus desconhecido – São Paulo alude ao fato (At 17:23). A helenização espalhou a mitologia pelo mundo. Para Hesíodo antes da criação do homem, havia paz, harmonia (Gn 1 a 3:1), os seres tinham longevidade sem tristeza (Gn 5). O titã Prometeu (Que pensa antes, prudente), descendente dos deuses, criou o homem do barro, semelhante aos deuses (Gn 1:27) e soprou-lhe nas narinas (Gn 2:7) as essências boas e más. Deu-lhe o fogo, que roubara do deus Sol, sabedoria e conhecimento da luz e das coisas da Terra: agricultura, uso do arado, construção, filosofia, sobre comércio e moeda, escrita, mineração, caça e pesca pertencentes ao deus Júpiter. ”Prometeu, partilhou um boi, oferecendo aos imortais as entranhas, e a carne melhor aos humanos. Zeus convocou os deuses do Olimpo e decidiram castigar Prometeu e os homens. Prometeu foi acorrentado a um rochedo por trinta séculos, à disposição dos abutres que comiam quase todo o fígado durante o dia, sem perdão nem piedade pétreo Zeus, simbolizado pelo rochedo. Durante a noite o fígado se recompunha para ser novamente devorado no dia seguinte. Para vingança maior, com a ajuda dos olímpicos e ninfas, Zeus mandou criar uma mulher belíssima, dotada de sagacidade, graça, audácia, força, persuasão, habilidade manual e sensualidade delicada, e sedutora dissimulação recebida de Mercúrio. Deveria seduzir todos os homens e tirar-lhes o rumo. Hermes chamou-a Pandora, (pan (todos), dora (dons), pois cada um dos deuses deu à donzela um dom. Afrodite deu-lhe a beleza, Hermes o dom da fala, Apolo, a música. Ainda vários outros encantos foram colocados pelos deuses na criatura. Zeus pediu ainda que cada imortal reservasse um malefício para a humanidade. Esses presentes maléficos foram guardados numa caixa, que a donzela levava nas mãos. Pandora, desceu à terra, conduzida por Hermes, e foi dada como esposa a Epimeteu (o que pensa depois, imprudente), irmão de Prometeu. Deslumbrado com sua beleza perfeita, recebeu-a como esposa, apesar das advertências do irmão. Pandora, curiosa, abriu a tampa do presente de núpcias de Zeus, diante de Epimeteu; de dentro, com uma nuvem negra, escaparam todas as maldições e pragas que assolaram todo o planeta. Desgraças que até hoje atormentam a humanidade. Pandora ainda tentou fechar a caixa divina, mas era tarde demais, nela só restava a “esperança”.
Assim como Pandora, mulher linda, foi vencida pela curiosidade, trouxe todo o mal ao mundo paradisíaco, Eva, a mulher perfeita, linda, ouvindo a serpente, foi vencida pela curiosidade, comeu o fruto proibido e trouxe todos os males a todos os homens, entre os quais, outrora, só havia paz, felicidade sem morte (Gn 3).
A expressão “caixa de Pandora”, usada, em sentido figurado, quer dizer que alguma coisa, com aparente inocência ou beleza, pode ser, na verdade, uma fonte de calamidades. Abrir a “Caixa de Pandora” significa que certas curiosidades podem acarretar terríveis consequências para o curioso e para muitas outras pessoas. Há muitas “Caixas de Pandora”: a “linda” mulher do próximo, o cigarro, bebida alcoólica, as drogas ilícitas são “Caixas de Pandora”. Elas trazem ruínas, desgraças, maldições e morte. É melhor deixa-las fechadas. A orientação de Deus é: “o pecado jaz à porta, teu desejo é contra ti, mas a ti cabe dominá-los” (Gn 4:7). Quais “caixas de Pandora”, apesar da curiosidade e da vontade, você precisa evitar? Não abra a caixa, não experimente, fuja da amargura. A esperança que nos resta é Cristo, Nosso Salvador.
ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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