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Curiosidades: crença e atitudes dos Jesuítas 4

Leondenis Vendramim
é professor de Filosofia, Ética e História

Não há dúvida, os jesuítas são filhos de seu tempo, formados pela cultura de sua época. Seu imaginário foi formado pelos pensamentos filosóficos, pela crendice, pela religião, pela pseudosofia de sua época. Além disto, colocaram no cadinho, ou no caldeirão de feiticeiros, suas mentiras, lendas milagreiras e procissões pomposas que “hipnotizavam” brasis e colonos. Segundo Lúcia H. de Oliveira, Platão dizia que a mentira enfeia a alma, mas é perdoável quando atende aos interesses do Estado. Santo Agostinho dizia que há seis tipos de mentiras: a que prejudica alguém, mas é útil; a que prejudica e não é útil a ninguém; a que é dita pelo prazer de mentir; a que é dita por diversão; a que leva ao erro religioso; e a boa mentira, dita para salvar alguma pessoa (Rev. Interessante. 2/4/1988). Os jesuítas valiam-se dessas escusas e mentiam aos católicos para enriquecer a Ordem (seu Estado), aos protestantes para enganar ao Diabo. Antônio Cândido, as literaturas loyolanas eram direcionadas puramente às suas ideologias religiosas (Cap. da Hist. Colon., 238). José de Anchieta e Simão de Vasconcelos produziram uma hagiologia para elevar o caráter desses padres à santidade e ao prodigioso (Do Im. à Sta. Inquisição, 164). Buarque de Holanda diz que essas literaturas serviam de reforço à devoção visionária, portentos, feitos maravilhosos, aparições, levitações, onipresença de padres, profecias, eternização e glorificação das obras dos inacianos e elevar Anchieta à canonização, em nada devendo a S. Francisco de Xavier (Visão do Paraíso, 166).
Anchieta escreveu que S. Sebastião (256-286) participou pessoal e visivelmente, ao lado das tropas de Estácio de Sá e dos padres, em 1567, contra os gentios e hereges calvinistas na tomada do Rio de Janeiro. Como nas Índias, S. Tiago e a própria Virgem Maria apareceram montados em corcéis aos soldados, incentivando-os e assistindo-os na guerra sagrada. Segundo os padres, S. Tiago participou onze vezes, a Virgem Maria seis; S. Pedro, S. Francisco e S. Brás uma vez cada das guerras contra os índios, negros e protestantes no Brasil. (Visão do Paraiso, 162)

A teratologia dos jesuítas é de arrepiar. O Pe. Anthony Knivet enfrentou um monstro com grandes escamas, garras medonhas, cauda comprida, lançando sua língua em forma de arpão. O jesuíta Gabriel Soares fala sobre os upupiaras, ou homens marinhos, muito fortes e tão ágeis que se desviavam dos tiros, afundavam jangadas com os tripulantes, mordiam-lhes a boca, nariz, na sua natura e afogava-os. Dizia que vários dos seus escravos foram mortos assim pelos upupiaras (Do Im. à Sta. Inq., 166). Simão de Vasconcelos, cronista jesuíta afirmou ter visto com seus próprios olhos, na tona da água uns bichinhos brancos, transformarem-se em mosquitos, estes se tornaram em lagartixas, e então em borboletas, e depois de algum tempo, em colibris. Os padres Anchieta e Cardin confirmaram o relato. Manoel de Morais e outros padres corroboraram com a farsa dizendo que “viram esses fenômenos e os trataram com as mãos”. (Vis. do Par., 166). O Pe. Vasconcelos ainda aumentou o milagre, que pelos autores, não se pode duvidar, que como o beija-flor só vive de flores, quando acabam (as flores), prega seu biquinho no tronco de uma árvore, fica morto até que brotem novas flores, então torna a viver e a voar. E o Pe. Pisa ainda acresce: “mortos, logo deitam de si um suavíssimo aroma… consequência dele se alimentar de flores e orvalho das flores” (Idem 264-265). Pe. Feijoó, censurando a ignorância do populacho por dizer que o galo punha vários ovos, disse: “o galo quando envelhece, põe só um ovo.”

Os frades capuchinhos diziam que a jiboia, depois de morta e consumida sua carne e espinhaço, novamente se cobre deles e revive e este fenômeno é de mais credibilidade do que o da fênix (Idem 266). Segundo Anchieta e Cardin, a anhuma cuja fêmea é maior que o pavão e o macho o dobro da fêmea, tem um grito estridente, que se ouve até meia légua (3300 km); o seu corno, os esporões das asas e os ossos da perna esquerda, raspados e bebidos em solução de água ou vinho cura picadas de cobras, e o chifre como amuleto ao pescoço faz o mudo falar (Ibidem). O jesuíta João Euzébio Nieremberg entusiasta, dizia que Jesus derramou 97.305 gotas de sangue e 72.200 lágrimas ao receber 6666 crudelíssimas chibatadas (Idem, 29). Não me perguntem como ele contou? Santas mentiras! Ou contos do vigário?

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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