Opinião

Crise: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe – Augusto Sales

O cenário macroeconômico atual continua sendo dominado pela incerteza. As economias dos países desenvolvidos ainda não se recuperaram e ninguém se arrisca a dizer quando isso vai acontecer, de fato. Hoje, estão na pauta de discussões a própria manutenção do Euro e a continuidade do crescimento significativo da China, grande força motriz da economia mundial, que dá sinais de esfriamento. Com tamanha incerteza, não dá para afirmar se o Brasil será muito afetado, ou não, pela crise mundial. De certo, temos ainda muitos deveres de casa a fazer.
Os empresários reclamam da complexidade e do tamanho da carga tributária, que aliados ao peso das obrigações trabalhistas, tornam a indústria brasileira menos competitiva do que a de seus pares emergentes. Sem falar na escassez de mão de obra especializada em determinados segmentos. Com exceção à Embraer e a algumas outras poucas empresas, há 500 anos exportamos gêneros primários e importamos tecnologia, know how e produtos industrializados de alto valor agregado. Precisamos investir em educação, pesquisa e pensar numa política de longo prazo que nos coloque também na mesma direção dos países produtores de alta tecnologia, como o Japão, por exemplo.
Vale lembrar que o Brasil vive um fenômeno demográfico interessante, que deve nos manter crescendo pelos próximos vinte ou trinta anos. O bônus demográfico, como os estudiosos o chamam, é o resultado positivo do coeficiente apurado entre a relação da população economicamente ativa e seus dependentes. Pelas próximas décadas, teremos mais gente trabalhando do que pessoas dependendo daqueles que trabalham. Isso significa mais dinheiro girando na economia, pessoas consumindo, economizando. Este ano a previsão de crescimento do PIB, projetada inicialmente para algo próximo de 5%, foi revista até pelo governo, e deve ficar, segundo os analistas, entre 2% e 2,5%.
Com relação às empresas, a “tábua de salvação” aponta em direção à inovação, seja dos produtos, ou serviços vendidos, dos processos de fabricação, distribuição ou posicionamento, e dos sistemas de gestão. No Brasil, a indústria também tenta algumas alternativas e, com certeza, investir em inovação talvez seja uma boa forma de buscar competitividade. Há vários exemplos disso, e talvez o mais notório seja o apresentado pelo nosso setor de agronegócio, onde a Embrapa desempenha também um grande papel. Para sobreviver, as indústrias precisam mergulhar e ir atrás de soluções mais viáveis para que se tornem mais competitivas. O que não vale é querer ser competitivo na base dos incentivos fiscais, subsídios etc.
Neste cenário, é preciso destacar que as soluções customizadas podem ser outra solução aplicada à eficiência, uma resposta mais rápida às necessidades dos clientes e um diferencial que pode projetar muito à frente a atuação de uma empresa. Sem dúvida é uma alternativa gerada para atender a uma necessidade, e tende a ser mais eficiente do que uma genérica, tirada da prateleira e empurrada para esse cliente. Sem esquecer que vivemos em um mundo onde estes últimos estão cada vez mais exigentes com as empresas, e o incrível nível de acesso à informação de hoje e a canais onde os consumidores podem interagir os têm tornado muito mais críticos e exigentes.
De maneira geral, a produção ou criação de bens ou serviços que atendam às expectativas específicas e diferenciadas dos clientes são formas mais eficientes de cativar e fidelizá-los. É claro que, para chegar a isso, as empresas necessitam muita pesquisa de mercado, manter bom relacionamento com clientes e potenciais clientes, investir em inovação e P&D e possuir uma estrutura ágil para se adequar às demandas que às vezes exigem mudanças radicais no modo de produção ou de prestação de serviços.
Em suma, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. A crise provavelmente vai ser superada, economias nacionais e também organizações vão sair fortalecidas, enquanto outras terão menos brilho. As que investirem em construir bases para o futuro se sairão mais bem-sucedidas. É hora, portanto, de o Brasil promover uma revolução na educação, principalmente no ensino fundamental, investir em infraestrutura para suportar o crescimento econômico e combater a corrupção e a burocracia.

Augusto Sales é sócio-líder do Grupo de Estratégia Global da KPMG no Brasil

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Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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