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Contos do Caipira: Saudade (O Saci)

A saudade às vezes chega, e quando chega, é como uma tempestade.
Que chega de repente, fazendo um arraso na vida da gente.
A saudade chega junto com a lembrança.
Lembrança de quando criança, as histórias ouvia contar.
Recordo-me da fazenda, começo lembrar das noites calmas.
Com vagalumes e pernilongos, a fumaça de um cigarro de palha.
Um amigo chega, senta no barranco, chega mais um, o papo é mais longo.
Outro logo chega, também começa a prosear, a roda de amigos é formada.
Causos e histórias começam a contar.
A gente, criança, fica a imaginar histórias de assombração.
De lobisomem a boitatá, mula sem cabeça, o enorme m’boi guaçu.
A bruxa, o saci. Nhô Antônio também chega e começa a contar:
“O danado do saci, o dia inteiro a me amolar”, e eu chego mais perto.
Começo até a me arrepiar!
Ele diz com raiva:
“Moleque de uma perna só, vive a me atormentar.
Nem o meu cachimbo posso cachimbar.
Ele é malvado. Tira o fumo do cachimbo escondido, que acabei de picar,
e coloca cocô de cavalo no lugar.
O meu cavalo, que vem do pasto, dá dó de olhar.
A crina e o rabo trançados, que o saci monta e sai a galopar.
Só se escuta o galope e vê poeira levantar.
E quando eu vou no pasto buscar, ele dá uma gargalhada, e aparece em outro lugar.
Quanto mais eu fico bravo, mais ele gosta, não adianta se irritar.
Saci de uma perna só, de toquinha vermelha, cachimbinho na boca.
Gosta de fazer mal, e lá na fazenda era toda noite igual!”
Os homens proseavam, e nós, criançada, ia rodear.
Quanta saudade daquele lugar!

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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