Isso foi há muito tempo
Eu ouvi contá
De um casarão antigo, bem grande por siná
Num conheci o sinhô e nem a sinhá
Mas depois de abandonado, um empregado corajoso, num quarto do casarão ele foi morá
Um casarão muito bem feito, cada vigota que eu num sei, fico pensando: como conseguiram levantá?
Parede de barrote bambu e cipó trançado, muito bem amarrado
Até hoje tá lá
O casarão da fazenda, como desse jeito eu vô chamá
Foram os escravos que puseram de pé
Os irmãos pretos, fortes, corajosos
Faziam tanto esforço que nem dá pra acreditá
Depois que o casarão passou pra história
Esse tar empregado, sozinho foi dormi lá
Uma escuridão, oiava pra cima, aquele paredão
E só tinha vela pra iluminá
Foi logo na primeira noite, assim eu ouvi dizê
Ele deita pra dormi, mais quê!
Apagaram as velas, e a cama pega a tremê
Quis levantá, mas num conseguiu
Baruio de corrente pelo casarão, de repente ele ouviu
Os cabelos tudo em pé, e o forte arrepio
Mas ói, a cama do homem começô a desmontá
O parafuso começô a sortá, ele parecia tá no ar
Mas o caboclo, corajoso, esperô e chegô a perguntá
Quem tava lá
Uma vois respondia, e o baruio se ouvia
Cada vez que a voz falava, lá vai uma perna, agora a outra
Os braços, tudo pra assustá
E quando ele num tava mais pra aguentá, silenciô tudo
A vela de novo acendeu, e a cama dele tava montada
Nem se mexeu do lugar
E toda noite era assim, e por muito tempo até ele se mudá
Era essa a história que, quando criança, eu ouvi muita gente contá…
Cheguei até a entrá de dia, vi a senzala, o tronco, até uma bicicletinha de ferro tinha lá
Quebrou a escada quando eu quis chegá até lá
Deu pra vê, mas nunca mais vortei pra lá
Já me deram um susto pra nem perto chegá.