Sou aquele menino pobre, que nasceu beirando o mato.
Uma casinha simples, feita com barro e bambu
amarrado com cipó, que foi tirado também do mato.
Minha caminha é confortável, o colchão feito de palhas de milho.
O travesseiro de penas.
Os pernilongos castigavam que dava coceira nas pernas.
As palhas do colchão tinham que ser removidas
por um buraco bem feito que só coubessem as mãos.
Sou aquele menino pobre, que andava de pés no chão.
Calça curta e camisa de retalhos, que ganhei de uma professora.
Um estilingue no pescoço, que eu usava
pra caçar rolinhas que pousavam na roça de vassouras.
Eu caçava de estilingue e acertava pra valer.
Mas era pra levar pra casa a mistura pra família inteira comer.
Sou aquele menino pobre, daquela casinha
que pra chegar, era preciso abrir uma porteira.
Passar perto de um paiol de milho, e um rancho de madeiras.
Do alto, logo se via uma enorme mangueira.
Ao lado, uma roça de milho e uns pés de erva cidreira.
Sou aquele menino pobre, filho de pai trabalhador e mãe trabalhadeira.
Éramos todos pobrezinhos, na hora do banho formávamos fileiras.
Sou aquele menino pobre, que ficou sem pai e sem mãe.
Por uma doença traiçoeira.
Mas que hoje olha para o passado, com saudades.
Vendo em sonhos, a charrete e a nossa égua marchadeira.
O chapéu do nosso pai parece que vejo, em cima do armário.
O avental que mamãe usava, ainda estou vendo
naquele prego pendurado, perto de um calendário.
Sou aquele menino pobre, que cresceu e tornou-se homem.
Sou aquele menino pobre, que hoje tem a própria família.
Uma esposa que vale ouro, e também uma linda filha.