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Contos do Caipira: Fugindo de casa

Um dia ainda criança, hoje me vem na lembrança, fugi de casa.
Vim pra cidade, saí da fazenda Milhã.
Uma fazenda que é vizinha da fazenda Borba,
andando por uma estrada.
Quem conhece agora recorda.
Pisei no areião, passei a água ferro, avistei um capão de mato.
Passei o mata burro, cheguei na chácara do seu Nato.
Fui andando naquela estrada, como quem vem de Salto.
Subi o morro grande, andei até chegar ao Clube de Campo.
Caminhando mais um pouco, em uma descida,
passei por um depósito de bebidas.
Vi lá embaixo a ponte do Santoro, fui olhando as casas no barranco.
Cheguei à venda do Armando Bresciani.
Quanta saudade!
Dei uma olhada na lojinha do Osvaldo, e dobrei a esquina.
Entrei no armazém do seu Mário Bossolan, tomei um guaraná.
Passei o pontilhão, olhei primeiro se não vinha caminhão.
Fui ao armazém do Maschietto, onde me chamou a atenção
o tamanho do balcão.
Meu pai comprava sempre ali, pessoal de muita estima.
Não podia deixar de chegar na loja da Pina.
E depois no Romaninho, e continuei o passeio!
Cumprimentei o seu Mingo da Antártica, o Dante do açougue.
Passei a ponte do rio Capivari,
olhei a agência do Vigorito, quanto carro bonito!
Resolvi cortar o cabelo no Alcides barbeiro,
como havia muita gente, fui ao açougue primeiro
cumprimentar os amigos, Nelson e Toninho.
Fugindo de casa, olhando e admirando tudo.
E conversando com quem o encontrasse.
Perguntou-me do meu pai, antes mesmo que eu o cumprimentasse.
O tão conhecido seu Mário Campache.
Depois comprei um pãozinho na padaria do Lucianinho e fui andando devagarzinho.
Subindo a rua XV até a casa de louça.
Passei do outro lado da rua, para ver a vitrine do Moroni.
Parei na praça pra descansar no jardim.
Era tarde. Resolvi comprar um rádio, a loja não era longe,
fui ao Kito Annicchino, mas comprei no Briolange.
Depois fui ver a fonte no jardim,
dali avistei na porta, os padeiros, seu Mário e Otávio Roque.
Me convidaram pra comer um docinho, e ainda me deram um filãozinho.
Lá no armazém Estrela parei!
E com tamanha surpresa, me chamando pra subir na charrete,
ele estava a minha procura, o meu pobre papaizinho.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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