Moro numa cabana, na frente um bonito jardim, uma fruteira onde canta o bem-te-vi.
Além do canto do sanhaço, todas as tardes ouço o cantar da juriti.
Gosto deste lugar. Acabei ficando sozinho, mas vivo neste ranchinho desde quando eu nasci.
Sou caboclo de paciência, não gosto de se exibí.
Quando é hora de tirar o leite, somente com um assobio o gado já começa se reuní.
Saio de madrugada, e deito cedo pra dormí. Jogo milho pras galinhas, fico vendo elas divertí.
Enquanto isso, no chiqueirão, parece que os leitão ficam chamando por mim.
Saio um pouco a cavalo, apelido de Saci, depois torno soltá no pasto.
Vou no pomar tirando mato, que nem precisa carpí.
Mas o que me chamou a atenção, já de tardezinha, que me fez levantar da minha rede, foi um piadinho que eu ouvi!
Saí devagarzinho, pisando macio, só a batida do meu coração eu podia sentí.
Cheguei no ranchinho do arreio, toda a traia, pendurada, com capricho eu guardo ali.
De repente uma surpresa, tirei até o chapéu pra meu rosto cobrí!
Era um pequeno passarinho, veja onde fez seu ninho!
Todo trançado de capim.
No estribo de uma cela, ficou bem arrumadinho, o ninho de um colibri.
E quanto mais eu me aproximava, mais o colibri me atacava, como que dizendo pra eu saí.
Mas pude ver de perto, de biquinho aberto, seus filhotinhos.
E o desespero da mamãe colibri.
Aquele serviço bem feito era coisa que eu nunca vi!
Pendurado por um fio, o ninho do colibri.
Defendia com tanta bravura, com suas asinhas abertas, até arrepios eu senti!
Voltei pra minha rede, só saí pra dormi.
Mas fiquei pensando: “nesta cabana eu não vivo sozinho!
Eu e os passarinhos, e a família colibri”.