Rubinho de Souza

Conserte, não descarte!

Senta que lá vem estória…

Antigamente passava nas ruas, o amolador ambulante, cujo dito se deslocava-se a pé, acompanhado de uma roda montada numa estrutura de madeira (foto). Essa roda era acionada com um pedal e transmitia o movimento à roda de esmeril que frente à habilidade do amolador ao colocar levemente o objeto cortante na pedra de esmeril, trazia de volta o “fio” aos objetos cortantes.

Além do amolador, tínhamos o “foieiro” cuja habilidade era conservar fundos e tampas de canecão, panelas e outros utensílios domésticos. Os mais antigos moradores daqui de nossa Rafard, hão de se recordar do Sr. Braz Limongi, mais conhecido como “Braz foeiro” que exercia esse mister e era muito requisitado naquilo que fazia.
Nesses tempos, praticamente nada era descartado, tudo era aproveitado, desde os frascos, garrafas, latas, caixas e caixotes. As roupas eram costuradas, no calçado se colocava meia sola e salto, do ferro de passar se trocava a resistência, dos chuveiros também, pois eram de metal e durava anos e anos. Assim, no que quer que fosse, a vida útil de tudo o que se possuía era prolongada ao limite da utilização e tudo era extremamente valorizado.
Com o advento da televisão, as propagandas nela veiculadas, acabou por incutir na vida da nossa sociedade, o consumismo desenfreado, levando o consumidor a querer comprar tudo que os olhos viam e o bolso nem sempre confirmava, chegando ao ponto de ninguém querer consertar mais nada. Joga-se fora, compra-se um novo.

Publicidade

E com isso, passou-se a deitar fora aquilo que se quebrava, mesmo tendo conserto, chegando mesmo a não querer mandar pôr uma vareta nova numa sombrinha, mesmo estando o restante em boas condições. Não querer mandar colocar um pingo de solda numa panela em bom estado, com apenas um buraquinho no fundo. Juntar o cabo de uma louça que caiu ao chão e colar, nem pensar!

Nesse passo, muitas peças, muitos objetos preciosos para muitos antepassados, guardados por anos por eles, e que, durante anos tiveram papel importante na vida dos pais e avós de muitos, terminaram no lixão da vida, cada vez mais abarrotado, e no lixo da história, sem qualquer cerimônia.

Conserte, não descarte!
Conserte, não descarte!

Como para toda regra há exceção, muitos ainda têm guardado com carinho, agora com valor de antiguidade, pratos, travessas entre outros objetos, que mesmo tendo um “lascadinho” ali e outro “trincadinho” lá, nos é precioso demais para descartar, peças essas que foram presentes de casamento, de aniversário de nossos pais e avós.

Não é à toa, que quando um jovem perguntou a um casal de idosos qual era o segredo para permanecerem juntos por tanto tempo, deles, ouviu a seguinte resposta: “É que na nossa época aprendemos a consertar as coisas, e não a descartá-las.

A vida pós modernismo, tem produzido cada vez mais, uma geração que enxerga os relacionamentos descartáveis como os objetos que possuem, fazendo com que muitos relacionamentos cheguem ao fim porque um deles, ou ambos, não querem consertar o que se desgastou com o tempo, pois, sem que se dessem conta, a cultura do consumo acabou por influenciar seus relacionamentos, tornando-os também descartáveis.

Isso tem levado muitas pessoas a perder o real sentido da vida, terminando por se tornarem pessoas infelizes, solitárias, desiludidas com vida e com as pessoas de um modo geral.

Consertar, requer esforço, dedicação, paciência e pode levar tempo, e às vezes é preciso até mesmo renúncia da parte de quem toma a iniciativa, e, ainda precisa contar com a reciprocidade do outro para que tudo seja superado no relacionamento.

Como juiz de casamentos, sempre que tenho oportunidade, falo com o casal antes durante a cerimônia, da necessidade de muito diálogo, de respeito, para que o relacionamento se prolongue e tenham sucesso na vida a dois.

Muitos que entenderam que este é o segredo para se manter o relacionamento, não obstante as divergências, tiveram, como muitos ainda têm, relacionamento duradouro e sólido, tão sólido que somente o poder da morte, poderá os separar. Por este e por outros motivos, conserte, não descarte!

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo