Tenho buscado entender quais são as características, competências e virtudes que um treinador tem que ter para se aproximar do sucesso. Veja que usei “se aproximar” e não “ter” sucesso. Isso porque não há fórmula pronta. Não há uma receita de bolo. Em um jogo com oposição como é o futebol não existe garantia de vitória em hipótese alguma. Mas há valências e qualidades que um técnico pode desenvolver para assim estar mais próximo de ser bem sucedido.
E nessa busca encontrei competências técnicas, que são inerentes ao jogo, como conhecimento de tática e metodologia de treinamento, por exemplo, e também extrai qualidades comportamentais que explicam as seguidas vitórias de muitos profissionais. E nesse texto quero me apegar exclusivamente a essas valências, que podem ser intuitivas, mas podem ser também desenvolvidas com treinamentos, cursos e aulas.
Um técnico de futebol é antes de tudo um gestor de pessoas. Esse termo já foi usado muito nos últimos tempos, porém pouco debatido a fundo no mundo do futebol. Como gerenciar conflitos, egos, vaidades e angústias de pessoas (jogadores) com perfis sociais, culturais, educacionais e de faixa etária tão diferentes? Uma arte para poucos. A liderança de um treinador tem que ser o seu principal atributo em inúmeras situações. E indo a fundo em diversas jornadas vitoriosas foi a liderança positiva, empática e carismática que fez a diferença no grupo de trabalho. Antes de qualquer coisa envolvendo as especificidades da modalidade futebol. Como explicar, por exemplo, a declaração de Romário dizendo que Joel Santana foi o seu melhor treinador? Joel era um gênio tático? Evidentemente que não. Mas tinha nas relações interpessoais seu grande trunfo e com uma liderança focada no bem estar do atleta construiu sua carreira.
Dos novos técnicos que surgiram no Brasil nas últimas temporadas Fábio Carille é o mais promissor e o mais vitorioso até aqui. E é claro que suas conquistas não foram fruto do acaso. Sua experiência gigante como auxiliar foi fundamental. Talvez aqui seja o grande ‘gap’ para os novos treinadores: ser auxiliar por uns bons anos para adquirir competência antes de ser o treinador principal. E auxiliar do time profissional. Não das categorias de base. A gestão do ambiente com meninos é completamente diferente. Mas Carille cometeu um grande erro ao não se comunicar adequadamente nesta semana, discutindo com o repórter André Ranieri, da rádio Jovem Pan. Repito que esse texto é sobre a liderança dos treinadores. Não vou pormenorizar a discussão. Mas o mesmo Carille já havia se comunicado mal no ano passado ao reclamar publicamente do técnico Diego Aguirre, então no São Paulo, sobre cumprimentos antes do jogo.
A comunicação é um recurso dos mais valiosos para o técnico do futebol. E falo aqui de uma comunicação com diversos elementos: jogadores, dirigentes, jornalistas e torcedor. Carreiras são impulsionadas e/ou caem em descrédito em função do domínio dessa competência. Carille é inteligente. Após mais esse episódio com certeza irá refletir sobre como gerir suas relações com todo o meio.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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