Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

Como deixar de feder

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA

Em relação ao corpo, só temos duas alternativas: tomar banho e melhorar a alimentação; outros recursos de fora para dentro são os desodorantes e perfumes.

Em relação aos vícios, é necessário mudanças de atitude. E ter boa vontade com isso. Como deixar de fumar, por exemplo? Algumas coisas são boas e auxiliam, por exemplo: começar com atividades físicas ou esportivas, dormir o suficiente e melhorar a alimentação, cortar bebidas alcoólicas (elas são uma ponte que liga ao cigarro); em suas atividades, haja com equilíbrio e também com determinação.

Se você quer uma vida melhor, cuidado ao adquirir hábitos não saudáveis, pois alguns são infelizes e causam muita dor física e moral, além de ser difícil se libertar dele. Por exemplo: o doutor Dráuzio Varella, cancerologista, confessa em depoimento de um viciado arrependido que fumou por 19 anos, e se lamenta, agora com 20 anos sem o cigarro: “Por que eu demorei tanto tempo para parar de fumar?”.

Publicidade

Porque a síndrome de abstinência não permite. O hábito virou um vício e uma doença, a da dependência química.

As pessoas, além do desejo de parar e da boa vontade, também precisam de acompanhamento psicológico e médico, algumas vezes.

Nenhum vício é fácil de mudar ou deixar. Mas nenhum é impossível.

Lembro-me do depoimento de outro médico que fumava e só tinha filhas mulheres. Uma delas, adolescente, estava com uma mania de subir ou ajustar a calcinha em público.

Num domingo no almoço, estavam indo da sala para a cozinha. O pai e a jovem se levantaram do sofá, e a menina regulou a roupa. O pai, que não aprovava o “hábito” da jovem, não se exasperou, mas, creio que no desejo de mostrar que não era legal esse comportamento, disse-lhe:

– Minha filha, você precisa mudar esse costume de acertar a lingerie em público, isso é feio.

Ao que a garota respondeu na “lata”:

– O seu hábito de fumar também é feio, e ainda fede.

Numa situação constrangedora diante da esposa e filhas, o médico se penitenciou e disse: “Desculpe, minha filha, a partir de hoje não fumo mais. E espero que você mude sua atitude”.

Ele cumpriu a promessa, apesar de a esposa continuar a fumar. (A mulher não tinha entrado na conversa.)
Mahatma Gandhi difundiu os princípios da não violência e da busca da verdade, defendeu os direitos das mulheres e as relações inter-religiosas, e também é lembrado como sendo o autor dessa tese de que estamos todos evoluindo em fila indiana.

Nessa fila evolutiva, as pessoas estão em níveis evolutivos desiguais, cada qual carregando duas mochilas: na frente, a de suas virtudes e qualidades, e atrás a mochila de suas imperfeições e vícios. Então somos assim, esquecidos do ensinamento de Jesus, que nos recomenda: “Não julgueis”. Vendo os defeitos alheios, estamos a cobrá-los, esquecidos de que não conseguimos ainda perceber os nossos, que muitas vezes fedem.

ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo