01/12/2014
Castelo Rá-Tim-Bum: entrevista com Pascoal da Conceição, o Dr. Abobrinha
‘Eu gostava de todo o Castelo. Achei, claro, um presente, uma maravilha, poder fazer o vilão’, diz o ator ao relembrar o sucesso dos anos 90
Colaboração | Jorge Willian
O Castelo Rá-Tim- -Bum estreou no dia 9 de maio de 1994, pela TV Cultura, com o objetivo de substituir o Rá-Tim–Bum – aquele do “Senta que lá vem história”. Porém, conseguiu muito mais do que isso: todas as crianças da época queriam visitar o castelo que tinha uma cobra falante cor-de–rosa que seria mais feliz se tivesse braços e pernas, uma bruxa de cabelos em pé contadora de histórias, um menino de 300 anos, duas fadas que moravam em um lustre, um mau que não era tão mau assim e, principalmente, participar das aventuras ao lado de Nino, Pedro, Zeca e Biba.
Aliás, bota aventura nisso. Foram 91 episódios gravados, com cerca de meia-hora cada um. Apenas o episódio “É proibida a entrada de animais” foi gravado fora dos estúdios, no zoológico de São Paulo.
Como tudo começou
Tudo começou quando Nino, o menino feiticeiro de 300 anos, queria ter amigos de verdade, pois estava cansado de brincar sozinho. Para conseguir isso, colocou em prática o feitiço controlador de objetos e o lançou na bola de Zeca, fazendo com que ela seguisse até o Castelo e, em consequência, trouxesse o dono da bola e seus amigos. Ao chegar ao Castelo, Zeca, Biba e Pedro se encantaram com tudo o que viram.
Começou aí uma grande amizade com direito a muitas aventuras. Entre uma brincadeira e outra, a gente sempre aprendia algo interessante com os quadros “Como se faz”, “Tíbio e Perônio”, “Por que sim não é resposta”, “Que som é esse?”, “Marionetes” entre outros. E pra matar um pouco da saudade, conversei com o Pascoal da Conceição, o intérprete do Dr. Abobrinha. Será que ele ainda quer derrubar o Castelo?
Jorge Willian: Do que você mais sente saudade?
Pascoal da Conceição: Sempre me diverti fazendo o Castelo e me divirto muito até hoje nas abordagens pelas ruas por conta do Dr. Abobrinha.
Jorge Willian: Como surgiu o convite?
Pascoal da Conceição: Eu fazia locuções na TV Cultura. Um amigo me pediu carona eu dei. E ele, como todo carona folgado, pediu pra eu esperar um pouco porque ele iria fazer um teste pra um programa novo na TV. Eu falei “então faço o teste também”. Fiz teste para o Dr. Victor. Na época, estava fazendo Hamlet no Teatro Oficina. O Cao Hamburger achou que o careca dava caldo “prum” personagem, pois ele ia usar muitos disfarces, sugeriu que eu fizesse o Abobrinha e aí…
Jorge Willian: Você gostava do seu personagem?
Pascoal da Conceição: Eu gostava de todo o Castelo. Todos eram muito bons personagens. Achei, claro, um presente, uma maravilha, poder fazer o vilão. Imagina? Embora um coadjuvante, o que seria da “Chapeuzinho Vermelho” sem o lobo mau?
Jorge Willian: Qual a reação das pessoas quando te veem na rua?
Pascoal da Conceição: Sorriem, me abraçam, lembram-se da infância, perguntam se eu já consegui o Castelo.
Jorge Willian: Houve um acontecimento em que o ladrão foi te assaltar e o reconheceu pelo personagem. Como foi isso?
Pascoal da Conceição: Sim, houve. Era um assalto, mas o assaltante me reconheceu, devolveu minhas coisas e foi embora.
Jorge Willian: Você faria o Castelo novamente?
Pascoal da Conceição: Como assim? Vão fazer novos episódios? Estou nessa!
Jorge Willian: Qual seu personagem favorito no Castelo?
Pascoal da Conceição: Bem, gosto de muitos. Do Mau, por exemplo.
Jorge Willian: Por que escolheu ser ator?
Pascoal da Conceição: Eu tive contato com teatro na escola primária. Depois, na adolescência, fui ao cinema e ao teatro e fiz parte de um grupo amador. Trabalhei desde os 12 anos, primeiro como distribuidor de jornal, depois office boy, bancário. Tudo isso sempre estudando e fazendo teatro amador. Até que um dia iniciei o curso de ator na Escola de Arte Dramática da USP. Depois fui para o grupo do Teatro Oficina.
Jorge Willian: Se não fosse ator, qual profissão teria?
Pascoal da Conceição: Ah, isso eu não saberia dizer, porque não foi propriamente uma escolha ser ator. Se você reparar é uma parcela ínfima da população que consegue desejar e seguir o que deseja, porque as condições de educação, família, formação, embora tenham melhorado muito, são muito desiguais.
Jorge Willian: Em sua opinião, quais os papéis mais importantes que você fez?
Pascoal da Conceição: Poxa, foram muitos. Eu faço teatro já se vão quase quarenta anos, é muita coisa. Tem peças que eu acho que nem vou me lembrar. Gostei de muitos trabalhos que fiz.
Jorge Willian: Você fez muitas peças de teatro. Qual sua favorita?
Pascoal da Conceição: Essa pergunta é engraçada, porque pressupõe que a gente fica fazendo distinção ou escolhendo o que a gente quer ou não fazer. Uma peça de teatro não é só uma peça, é amor, romance, briga, vitória, fracasso, ilusão, desamor, alegria, tristeza. E isso é a vida, o movimento. É trágica, cômica, orgástica, e você não escolhe: você vai ou não.
Jorge Willian: Se o Castelo fosse adaptado para o Teatro, você participaria? Faria o mesmo personagem?
Pascoal da Conceição: Claro!
Jorge Willian: De onde surgiram os trejeitos e as roupas do Dr. Abobrinha?
Pascoal da Conceição: Quem criou o Dr. Abobrinha foi o Flávio de Souza e o Cao Hamburger. Nós, atores, ensaiávamos, improvisávamos e fazíamos as cenas, que eram aprovadas pelo diretor. O trabalho de arte é 99% transpiração e 1% inspiração.
Jorge Willian: Se pudesse escolher o destino do Dr. Abobrinha, qual seria?
Pascoal da Conceição: Ele continuaria sendo o que foi e como ainda é: louco pra derrubar o castelo, sem tirar nem por.
Jorge Willian: Qual a melhor coisa que o Castelo te proporcionou?
Pascoal da Conceição: Não sei dizer exatamente. Foram muitas coisas boas.
Curiosidades
• Apesar de serem apenas 91 episódios, a produção do Castelo durou cerca de dois anos desde a ideia inicial até o último episódio e teve mais de seis mil horas de gravação.
• Aproximadamente 800 figurinos foram produzidos para os personagens e visitantes do Castelo.
• A equipe do programa era composta por 250 pessoas, entre cabeleireiros, maquiadores, atores, produção etc.
• Celeste e Godofredo era interpretados pelo mesmo ator, Alvaro Petersen. Já o Gato Pintado, o Relógio e o Fura-Bolos ficaram por conta de Fernando Gomes.
• Uma grande chuva inundou os estúdios do Castelo, atrasando a gravação por 15 dias. Felizmente, só o piso precisou ser trocado.
• Algumas pessoas confundem uma das passarinhas com Sandra Annenberg, mas quem interpretou a personagem foi Ciça Meirelles.
• As roupas usadas pelos personagens eram feita em patchwork, por isso eram coloridas e diferentes.
• O cenário do Castelo foi baseado na arquitetura de Antoni Gaudí.
• O bigode do Dr. Victor foi inspirado no pintor Salvador Dalí.
Em 2014, o programa completa 20 anos de existência e, para comemorar, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), estreou, no dia 16 de junho, exposição com figurinos, apetrechos, cenários e tudo o mais que tinha de legal no Castelo. A exposição já foi prorrogada três vezes e, agora, vai até dia 25 de janeiro. Os ingressos podem ser adquiridos no site www.ingressorapido.com.br/castelo. Olha a hora, olha a hora! Garanta sua visita sem demora!
“Este castelo será meu, muuaahhh, muaah, muuuaaaaahhhh.” (Dr. Abobrinha)