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Casos de dengue em Capivari crescem quase 20% em uma semana

13/04/2015

Casos de dengue em Capivari crescem quase 20% em uma semana

Cidade enfrenta epidemia com 339 registros; Prefeitura decretou estado de emergência na semana passada; Rafard tem 39 casos da doença
Número de casos de dengue em Capivari subiu para 339 (Foto: James Gathany/Creative Commons)
Número de casos de dengue em Capivari subiu para 339 (Foto: James Gathany/Creative Commons)

CAPIVARI E RAFARD – A dona de casa Malia Porrelli, de 56 anos, apresentou os primeiros sintomas de dengue há duas semanas. Dois dias depois, foi atendida no hospital particular Unimed, em Capivari, com febre alta, dor no corpo e sensação ruim na boca. “No dia que eu levei o resultado do exame, na minha frente tinham mais 15 pessoas. Dessas, quatro haviam recebido o resultado positivo, além de mim”, conta.

O número de casos de dengue na cidade cresceu quase 20% em uma semana. Já são 339 casos confirmados, sendo 27 importados de outros municípios, porém, sem nenhuma morte. O total foi divulgado na última terça-feira, 7, pela Vigilância Sanitária. Na semana passada, a Prefeitura decretou estado de emergência devido à epidemia da doença. Até então, o balanço contabilizava 283 pessoas infectadas.

Insatisfeita com as informações que vem sendo divulgadas pela Vigilância, Malia disse que chegou a procurar o órgão para saber “por que eles estão escondendo o jogo”. “Na minha opinião, esse número que eles divulgam não é real. Tem muito mais”, explica. “Eu sou só mais um número.” A moradora também criticou a falta de ações do poder público para eliminar focos do mosquito transmissor.

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“Eu fico revoltada de saber que não existe uma fiscalização. Porque para mim, fiscalizar é sair olhar todas as ruas, bairros e terrenos, e fazer a nebulização sem ninguém precisar chamar”, diz. “Eu, como cidadã, cuido da minha casa, do meu quintal. Olho todos os dias. Eu sei que não tem sequer uma tampinha com água na minha casa. Mas, e o restante da população?”, questiona.

Malia mora no Engenho Velho. De acordo com a Vigilância, é o bairro com mais casos de dengue no município (40), seguido da Vila Fátima (25). “Fiquei ruim numa sexta-feira, 27, daí tomei remédio sábado e domingo achando que era gripe. No domingo à tarde fiquei muito ruim e, de tanto todo mundo falar que era dengue, resolvi ir ao hospital. Fui atendida por volta das 18h. Entrei, falei para o médico os sintomas e ele não falou nada. Pediu apenas que eu fizesse o exame de sangue”, relata.

“No dia seguinte, fui fazer o exame às 6h30. Por volta das 16h, entreguei para o doutor. Quando entrei na sala, o resultado já tinha ido na frente, ele falou que era dengue. A receita já estava pronta na mesa. ‘Repouso e água’. Foi só isso o que ele falou para mim. Falei ‘sim, senhor’, virei as costas e fui embora. Não me orientou em mais nada. Só disse três vezes essas duas palavras.”

Ainda segundo a dona de casa, na fila a sua frente estava uma funcionária de seu marido, que trabalha em uma fábrica de bebidas. “Ela estava com sintomas muito piores do que o meu. Na fábrica tem pelo menos três pessoas doentes.” Uma delas é o porteiro José Carlos Martins, de 55 anos, que mesmo se sentindo mal achou por bem ir trabalhar na última semana. Ele mora na Avenida Pio XII, no Centro.

“Comecei com dor no corpo, dor de cabeça, achei que ia passar. Mas, na quarta-feira, 1º, fiquei a noite inteira sem dormir. Na quinta, fui à Santa Casa”, conta. Lá, Martins disse que tomou soro e fez exame de sangue. “Depois, o médico preencheu um documento e pediu que eu passasse no postinho. Ele também falou para tomar Paracetamol e bastante líquido, e disse que não tinha muito mais o que fazer.”

Por causa da Sexta-feira Santa, o porteiro só conseguiu ir até o Posto de Saúde do Porto Alegre, o mais próximo de sua casa, na segunda-feira, 6. Foi quando a enfermeira marcou novos exames para quinta. Sobre o atendimento recebido na Santa Casa, disse não ter do que se queixar. “Fui bem atendido.Só não fui melhor porque não tem muito recurso”, afirma. “Mas demorou um pouco, pois tinha bastante gente. Quando fui tomar soro, a maioria que estava lá tinha sintomas de dengue.”

Martins também contou que, outro dia, um amigo disse a ele que na Vila Fátima existe famílias inteiras doentes. “Parece que lá a coisa está feia.” Um dos moradores infectados é a terapeuta Sonia Maria Massari Bellini, de 60 anos. Com dengue há 20 dias, afirmou que no seu bairro não tem ocorrido nenhuma ação de combate à proliferação do vírus por parte da Prefeitura.

“Não vejo nenhuma movimentação no combate à dengue. Tenho ao meu lado terrenos sujos, calçadas sem condições de serem usadas de tanta sujeira e ninguém está fazendo nada. Eu tomo todos os cuidados necessários, mas e a sujeira que está pelas ruas, como é que fica?”, questiona. “Aqui na minha rua não passou ninguém. Não teve nebulização. Precisa ver qual é a prioridade que eles estão dando.”

Por outro lado, a moradora disse acreditar que o problema maior está na falta de colaboração da população. “Ontem, por exemplo, eu estava internada na Unimed, e na saída, ao lado da porta de emergência, tem uma obra que é do hospital, e lá estavam seis copos descartáveis usados e com água de chuva, virados de boca para cima. Deve ser uma tarefa muito difícil jogar fora esses copos depois de usar”, ironiza Sonia.

Questionada sobre quantos atendimentos de pacientes com suspeitas de dengue são feitos por dia na Unimed Capivari, bem como quais são os procedimentos adotados, a assessoria de imprensa do hospital não se manifestou até o fechamento desta edição. Porém, dados não oficiais obtidos em um laboratório de análises clínicas apontam que mais de 150 exames de sangue são realizados diariamente somente no local.

Santa Casa

De acordo com o presidente da Santa Casa de Capivari, Carlos Renato Ragonetti, a epidemia de dengue na cidade aumentou em 45% o número de atendimentos diários na entidade, cuja média era 180. E, essa quantidade, segundo ele, é demais para a estrutura do hospital. “A gente dá todo o apoio, já é medicado, só que essa medicação é o que nos toma mais tempo: de 2h20 a quatro horas.”

Por isso, Ragonetti orienta que o morador, ao apresentar os primeiros sintomas da dengue, não procure a Santa Casa, mas sim o posto de saúde mais próximo de onde mora. “A gente está se adequando a essa necessidade, mas a quantidade de pessoas é muito grande para a estrutura que temos. Então, a gente pede que o pessoal procure os postos primeiro, para que recebam um atendimento melhor”, diz.

“A medicação que fazemos é para tirar as dores enquanto a pessoa aguarda o resultado do exame de sangue, que é feito lá mesmo. Na verdade, antes ela passa por uma triagem, para detectar a necessidade de enviá-la para o exame médico”, explica o presidente da entidade. “Esse é um atendimento que nós damos a todos. Não discriminamos ninguém”, garante.

Agentes da Vigilância Sanitária inspecionam possíveis focos de dengue na Morada do Sol (Foto: Divulgação/Prefeitura de Capivari)
Agentes da Vigilância Sanitária inspecionam possíveis focos de dengue na Morada do Sol (Foto: Divulgação/Prefeitura de Capivari)

Morada do Sol

Dando continuidade à campanha “Cidade Limpa”, lançada em janeiro pela Prefeitura de Capivari, a secretária da Saúde, Eliane Piai, visitou o bairro Morada do Sol junto ao coordenador de Controle de Vetores e Zoonoses, Luis Torres, e aos agentes da Vigilância Sanitária. Na ocasião, os moradores foram orientados e as casas foram inspecionadas para eliminar os focos e combater a procriação do Aedes aegypti.

A secretária também conversou com a população e esclareceu diversas dúvidas. “A melhor forma de se evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. E, para isso, a colaboração da população é primordial.”

Rafard

A Vigilância Sanitária de Rafard registrou, até a última quarta-feira, 8, 39 casos de dengue, nove a mais do que o balanço da semana passada e 200% a mais do que o registrado em 2014 (13 casos). De acordo com o setor, os bairros mais afetados são a parte baixa da Popular e o Bate Pau. Com a proliferação do vírus da doença, os atendimentos na Unidade Básica de Saúde (UBS) chegam a 30 por dia.

Lá, os pacientes passam por uma triagem com uma enfermeira e tornam-se prioritários quando apresentam temperaturas acima de 38 graus. Todos, porém, são encaminhados ao médico de acordo com a gravidade dos sintomas. Depois, uma ficha do paciente é conduzida à Vigilância Epidemiológica para verificação e acompanhamento, bem como inserção de dados no sistema, conforme protocolo.

Segundo a Diretoria de Saúde, na UBS “são feitos vários exames para ver o estado clínico do paciente. E, imediatamente, é realizada a hidratação da pessoa, além de orientação sobre a hidratação diária” – entre 60 e 80 ml de líquidos por quilo da pessoa por dia. “Quando recomendado pelo médico, também fazem uso de medicação para controle da febre e recebem orientação quanto a possíveis sangramentos e, em caso de dúvidas ou piora, para retornarem à UBS”, explica o setor.

Com o intuito de eliminar os focos do mosquito transmissor, o chefe da Vigilância Sanitária, Celso Cerezer, informou que tem realizado controle de criadouros e atividades de bloqueio/nebulização de imóveis, cujos locais são definidos “conforme a transmissão se alastra”. “Também estamos trabalhando em conjunto com o Programa de Saúde da Família (PSF) para orientarmos e prevenirmos os munícipes, por meio do trabalho casa a casa e nas escolas.”

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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