05/06/2015
Capivari não participará do Mapa Cultural Paulista, diz Prefeitura
Motivo não foi divulgado oficialmente pela Prefeitura; no entanto, em reunião, secretário de Cultura teria alegado falta de dinheiro; artistas também questionaram a falta de divulgação do edital
Capivari não vai participar da edição 2015/16 do Mapa Cultural Paulista. A decisão foi oficializada no último dia 29, após uma reunião entre o secretário de Cultura e Turismo, Alexandre Della Piazza, o presidente da Câmara, Junior Pazianotto (PSS), o coordenador do Espaço da Arte e Cultura, Éder de Luca, a diretora de Eventos, Adriana Panza, a professora de teatro Vivian Ui e alguns artistas convidados do município.
O motivo, porém, não foi informado pela Prefeitura. “Após reunião realizada na Casa da Cultura, os interessados junto ao secretário optaram por não participar do Mapa Cultural Paulista”, disse o poder público, por meio de assessoria de imprensa. Em compensação, o governo municipal comunicou que irá realizar um festival na cidade, para fomentar a cultura, cuja data “será divulgada em breve”.
O Mapa Cultural Paulista é um programa da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo realizado pela Abaçaí Cultura e Arte. Segundo a organização social, se trata de uma das mais importantes políticas culturais do estado do ponto de vista formativo, informativo e de circulação de artistas do interior paulista. Seu objetivo é revelar valores em segmentos que não teriam acesso à mídia e pouca visibilidade no meio cultural.
Após receber algumas reclamações de moradores que alegaram não ter conseguido se inscrever no Mapa por meio da Secretaria de Cultura, o jornal O Semanário entrou em contato com a Abaçaí no último dia 27, para saber se Capivari havia confirmado participação. Na ocasião, a organização social informou que “em contato telefônico com a cidade”, Capivari estava participando.
No entanto, um mês depois de solicitar informações sobre o programa na página da Prefeitura no Facebook e não obter resposta, o escritor Bruno Bossolan, de 26 anos, disse ter ido até a Secretaria na sexta-feira, 22, para efetivar sua inscrição, sem sucesso. “A única coisa que ouvi foi: ‘não vamos participar, mas qualquer coisa te ligo ainda hoje para dar uma resposta’. Estou no vácuo desde então”, relatou em seu perfil na rede social.
A disputa do Mapa se dá em sete expressões artísticas: Artes Visuais (Artes Plásticas, Desenho de Humor e Fotografia), Canto Coral (Tradicional e Cênico), Dança, Literatura (Poema, Conto e Crônica), Música Instrumental (Solista e Conjunto), Teatro (Adulto, Infantil e de Rua) e Vídeo (Animação, Documentário e Ficção). Bossolan participaria na expressão Literatura, categoria Poema.
No edital consta que às prefeituras cabe “promover a divulgação e o chamamento dos artistas (…), realização da Fase Municipal (…) e responsabilizar-se pelo transporte e alimentação (…) para as atividades das fases Regional e Estadual”. Porém, Bossolan, que esteve na reunião, contou que na ocasião foi dito que Della Piazza só leu o edital faltando dez dias para se encerrarem as inscrições – 13 de junho.
“O prefeito [Rodrigo Proença (PPS)] estava com o edital desde abril, mas só passou ao secretário na semana passada”, afirma. Segundo ele, o município não participará porque a oportunidade não foi divulgada à população como deveria. “Se a cidade participasse, seria algo para os privilegiados que souberam do edital, porque a Prefeitura não ia divulgar nada. Seria uma coisa muito elitista.”
“Daí eu disse que ou abria as inscrições para todo mundo ou ninguém participaria”, completa Bossolan. Em 2013/14, apenas um capivariano conseguiu se inscrever no Mapa e, por ser o único, foi automaticamente classificado para a Regional. Isso porque, de acordo com o edital, “nos casos em que houver apenas 1 (um) inscrito por expressão, não haverá necessidade de realização de evento de seleção”.
O sanfoneiro Roberto Pagotto se inscreveu na expressão Música Instrumental, categoria Solista, e venceu a Fase Regional pela região de Campinas. Com o título, o capivariano garantiu uma vaga para se apresentar na Mostra de Música Instrumental, em São Paulo, no ano passado. As canções interpretadas por Pagotto foram “Bem-te-vi atrevido”, de Lina Pesce, e “Segredos de mãe d’água”, de Marcelo Tupinambá.
Ao escritor capivariano, que já teve suas obras divulgadas por meio de outras cidades, como Rafard, Porto Feliz, Campinas, São Paulo e até em Portugal, a Prefeitura também alegou que não participaria do concurso neste ano por falta de dinheiro. Para ele, a cidade precisa de “políticas culturais participativas e horizontais” desde o período escolar, uma vez que a cultura é essencial para a formação do indivíduo.
“Assim fica difícil ser poeta, Capivari”, escreveu em seu perfil no Facebook. “Só tu ainda não aprendeu a valorizar os que nascem aqui. Aos que declamam que esse fim de mundo é a ‘Terra dos Poetas’, calem-se. Poesia não é assentar a aceitação numa cadeira confortável e saudar quem já morreu. Eu quero o meu direito de produzir arte e exijo o máximo de respeito.”