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Calor demais e chuva de menos: a vida por uma gota?

14/02/2014

Calor demais e chuva de menos: a vida por uma gota?

Falta de chuva prejudica o abastecimento de água em cidades da capital e do interior de São Paulo
Capivari é abastecida por três mananciais, entre eles o Milhã, cujo nível diminui um centímetro por dia (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

CAPIVARI E RAFARD – Terra rachada. Sol a pino. Moradores com as mãos sobre os olhos, observando o horizonte e se perguntando quando virá a próxima chuva. O que parece ser a trama da composição Asa Branca, do Rei do Baião Luiz Gonzaga, é o que tem passado os moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil, lembrando as cenas de seca no sertão nordestino.

O calor extremo e a falta de chuva neste início de ano, além de levar à morte diversas espécies de peixes, como o ocorrido no Rio Piracicaba, devido ao pouco oxigênio presente na água, e de tirar a vida de aves em criadouros, como no Rio Grande do Sul, onde as interrupções constantes no fornecimento de energia elétrica provocaram a morte de mais de 450 mil frangos, faz lembrar também das inúmeras palestras sobre o uso racional da água, a qual os alunos eram submetidos nas escolas, e ainda são.

O principal sistema de abastecimento de água do estado, o Cantareira, que inclui as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), está operando abaixo do limite crítico de segurança, que é de 5%. Até o dia 31 de janeiro, o volume útil era de 4,63%, segundo os ministérios públicos de Campinas, Piracicaba e o Federal. De acordo com o Consórcio PCJ, se não chover de maneira significativa, o sistema entrará em colapso até o dia 29 de abril.

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Embora o governador de São Paulo não tenha decretado racionamento de água, ao contrário de outros estados, as cidades têm emitido alerta de economia urgente, oferecendo descontos nas tarifas como meio de incentivo ou até mesmo multa para as demasias. Em nota divulgada na sexta-feira, 7, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Capivari proibiu o uso da água para a lavagem de carros, calçadas, quintais e o abastecimento de piscinas.

De acordo com a autarquia, o consumidor que descumprir as regras terá que pagar multa de R$ 72,40, com penalidade de R$ 362,00 e corte no fornecimento de água por três dias, caso o morador volte a desperdiçar. A cidade é abastecida por três mananciais – Milhã, Água Choca e João Lau – os quais são responsáveis por 13 reservatórios de distribuição de água tratada e 37 poços artesianos.

Segundo o SAAE, o manancial Milhã diminui um centímetro por dia, enquanto o João Lau opera apenas com 50% da capacidade normal. Até o momento, o Água Choca permanece com nível estabelecido. “O calor excessivo induz ao consumo exagerado, contribuindo com o desperdício de muita água tratada”, explica o superintende do SAAE, José Luiz Cabral, e conta que a autarquia tem recebido inúmeras solicitações para o abastecimento de piscinas, o que resulta em mais desperdício ainda.

“Porém, não estamos mais atendendo aos pedidos. Convém lembrar que neste período ‘piscininhas’ de dois mil a cinco mil litros são bastante usadas, com reposição constante de água”, completa.

Peixes de diferentes espécies foram encontrados mortos no Rio Piracicaba (Foto: Mateus Medeiros/Arquivo pessoal)

Para o meteorologista Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o fenômeno se deve a uma massa de ar quente anormal para os meses de janeiro e fevereiro, que impediu que as frentes frias entrassem no país, assim como bloqueou o ar úmido vindo da Amazônia, submetendo os brasileiros a muitos dias de calor, com a temperatura subindo a cada dia.

“Foi o janeiro mais quente da história e a primeira semana de fevereiro está mais quente ainda”, diz Schneider. Porém, o meteorologista observa que a umidade do ar tem aumentado nos últimos dias e garante que na sexta-feira, 14, e no sábado, 15, vai chover em todo o interior paulista. “Principalmente na sexta, pode ter chuva prolongada e mais forte. De domingo a quarta-feira pode haver sol e nuvens durante o dia e chuvas rápidas à tarde”, comenta.

Schneider prevê, ainda, que as mudanças significativas serão percebidas nas próximas semanas, provavelmente entre os dias 20 e 23, com áreas de chuva em todo o estado. O problema, segundo ele, é que como está muito quente, as chuvas podem vir em forma de tempestades perigosas. “Temporal é a presença de calor e umidade. Quando o ar é muito quente, ele se eleva rapidamente na atmosfera e como já existe umidade ocorre a condensação da nuvem”, explica.

Ainda de acordo com o meteorologista, o interior das nuvens de tempestade, as quais costumam cair em pontos localizados, contêm vento forte, granizo e chuva.

O consumo exorbitante de água devido ao calor intenso e à baixa umidade do ar foi comprovado na cidade de Rafard, por meio de uma análise comparativa entre os três últimos anos feita pela Divisão Municipal de Água e Esgoto (DMAE) da cidade. Em janeiro de 2014, a população consumiu 52.849.000 litros de água, 12,5% a mais do que no ano anterior (46.210.000 litros). Em 2012, o consumo foi ainda menor, 45.624.000 litros.

No entanto, o chefe da divisão, Élcio José Ricomini, esclarece que por conta dos altos investimentos realizados em 2013 com a troca de moto bombas, Rafard ainda não terá cortes no fornecimento. “Apesar do aumento da capacidade de abastecimento, percebemos um acréscimo excessivo no consumo. Com a estiagem a captação é afetada, por isso é preciso economizar”, diz Ricomini.

A chuva permanece abaixo da média desde dezembro e somado ao calor e ao ar seco, faz com que a evaporação da água seja maior. Consequentemente, o nível dos rios cai mais rápido, segundo Marcelo Schneider, do Inmet. De acordo com o especialista, o volume médio de chuva na região, em janeiro, costuma ser em torno de 250 milímetros. Em fevereiro, aproximadamente 180.

Assim, o meteorologista afirma que para melhorar a situação é necessário chover acima da média – constantemente – durante o final do mês e início de março. “Não adianta chover 100 milímetros em um único dia”, exemplifica. Igualmente, as precipitações precisam acontecer na cabeceira dos rios (próximo à nascente), “então vamos colocar aí uns 250 a 300 milímetros de chuvas gerais, não temporais localizados”. E a partir daí, tudo pode começar a se normalizar.

 

Conscientização

Para economizar o pouco de água que existe, hoje, nos lençóis freáticos, os cidadãos têm o dever de adotar algumas medidas básicas que, a princípio podem ser um pouco desconfortáveis, mas valem a pena, pois ajudam o planeta a sobreviver: tome banho rápido; não lave carros e calçadas; ensaboe toda a louça antes de enxaguá-la; acumule as roupas para utilizar a máquina de lavar na capacidade máxima. Faça o mesmo com a louça; deixe a torneira fechada enquanto escova os dentes; atenção com vazamentos dentro do imóvel. Corrija-os o mais rápido possível.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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