Poesias

Cabides do tempo

Pendurei minhas antigas agendas
nos cabides do tempo, carcomidas por traças curiosas
perfumadas de recheados pretéritos;
flanei por ruelas amenas do esquecimento
pelos bosques singulares e sem flores
onde os plátanos de folhas flavas se exibem agônicas.

Minhas gavetas emperradas e velhos baús
me remetem à infância, de caminhos estreitos e sinuosos
à luz de estrelas que norteiam um rumo, um destino;
os cantos tristes e misteriosos dos curiangos noturnos
e uivos plangentes dos meus cães enfeitiçados,
trazem-me lembranças conjugadas dos aromas silvestres,
das suas resinas e flores lilás dos rubis
que invadiam minha casa fumarenta
e os quintais e pomares da minha infância
trazendo ares de eternos enigmas e indagações.

À mercê da chuva e arco-íris, desço meu rio
ensaio meus périplos
guiados pelos meus faróis
que me levam aos oceanos e mares
aos cais lúgubres e solitários
das prostitutas ávidas
à procura da sorte, dos marujos
dos corsários e aventureiros
ermos de amores e afetos
que frequentam as tavernas
de cantigas tristes e vazias
ao cintilar das frágeis lamparinas,
luzernas dos relâmpagos e som dos vendavais
que precedem as trágicas procelas
e eu, à procura do meu eu.

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Dario Bicudo Piai, engenheiro e perito judicial
Dario Bicudo Piai, engenheiro e perito judicial

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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