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Bom dia, bom ano

Seu moço me viu aqui sozinho, neste banco, sentado.
Chegô e parô:
“Como vai o senhor? Num parece padre, nem delegado!”
Veio me fazendo pergunta e ficou ali parado.
É Ano Novo e feriado.
Perguntou-me se estou triste e porque eu estou calado.

Vou lhe responder!
Sente-se aqui do meu lado.

Mais um Natal se foi, já é passado.
De tudo o que eu gostava, pouco me resta.
Meus cadernos de escola jogaram fora dizendo que pra nada mais prestam.
Meu caderninho de primeiro ano… o senhor deve se lembrar como é.
Também a cartilha Abreu Sodré.
O livro de História do Brasil já não existe também.
Foi queimado ou jogado no rio.
Olha, seu moço,
Não sei o que o senhor deve tá achando.
É que o tempo vai passando muito depressa.
Por isso fico aqui, sentado, pensando…
Minhas coisas de criança, meus cadernos, meus brinquedos se perderam no tempo.
Ah, como eu gostaria de podê revê o meu caderninho de primeiro ano, quando eu aprendi o bê-á-bá.
O meu brinquedinho, que meu pai comprou com sacrifício
Pra me fazer surpresa no dia de Natal. Quanta recordação!
O meu primeiro sapatãozinho. Eu queria ser homenzinho, de calça comprida e chapéu.
Meu papaizinho, Deus já levou embora pro céu.
Por isso, seu moço, que eu estou aqui sentado.
E a minha memória vem como um filme.
Nossa casa cheia de gente no Natal e no Ano Novo.
Não perdi minha família, mas todos que já se foram eu me recordo com tristeza.
Agora que me ouviu e sabe que não sou nenhum viciado, nem bandido,
Ficou aí, até comovido!
Ninguém mandou o senhor chegar perto de mim.
Com respeito, mas foi atrevido!

Na verdade, eu parei pra descansá e esperar meus amiguinhos.
Não dormi até agora, de tantos lares percorridos, dizendo ‘bom dia, bom ano’.
Mas agora vou andando. Olha, os meus amiguinhos estão chegando.
O senhor está dizendo que também tem pressa!
Já percebeu que, apesar de garoto, tenho boa história pra contá. E caiu na minha conversa.
O senhor é mais um. E, antes que eu me esqueça e vá saindo de fininho,
Quero lhe desejar um bom princípio de Ano Novo.
Bom dia, bom ano, seu moço.
O papo foi bom, mas é ano novo, eu tenho que aproveitá.
É mais um dinheirinho que acabo de ganhar.
Feliz Ano Novo!
Com a minha história, o senhor não teve como negá.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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