13/04/2018
DO FUNDO DO BAÚ RAFFARD
Bimbo e a encomenda
ARTIGO | Não conheci na cidade de Rafard, homem mais forte fisicamente do que Bimbo Bragion, era como dizia-se naquela época, um homem que vendia saúde, dada sua grande disposição para o trabalho, tanto é verdade que dava a impressão que ele estava sempre trabalhando, nunca estava com roupa de missa, sempre com roupa de “batente”, pois o tempo dele era sempre aplicado ao trabalho…
Apesar de ser uma pessoa generosa, Bimbo não tolerava que lhe faltasse com a palavra, pois “Homem tem que ser Homem” dizia ele, tem que honrar as calças que veste.
E lembro-me que nas rodas de conversa, contavam naquela época que certa feita, Bimbo contratou uma pessoa para lhe fazer um berço, e este lhe pediu um adiantamento em dinheiro para poder fazer frente às despesas com o material que iria utilizar na feitura da encomenda.
Como tinha certa urgência do serviço, Bimbo adiantou a quantia pedida pelo profissional, não sem antes recomendar: – Olha, só estou aceitando pagar esse adiantamento, por que tenho pressa que seja entregue o berço, pois meu filho está para nascer! Fique tranquilo…disse o contratado, vai ser entregue no tempo combinado, não vai ter problema.
O fato é que a pessoa que Bimbo contratou, talvez por uma situação de necessidade, acabou gastando todo o dinheiro e não tendo como comprar o material, também não pôde dar cabo do serviço, e tampouco entregar a encomenda.
Como essa pessoa conhecia muito bem com quem ele estava lidando, e não tendo como explicar que havia usado o dinheiro do material e não tinha mais como fazer o berço, tratou de arrumar a mudança, e desapareceu da cidade sem deixar endereço, pois sabia que com Bimbo não se brincava.
Passados vários anos, essa pessoa, foi obrigado a vir até o Banco Bandeirantes para sacar um dinheiro, que segundo foi informado estava numa conta inativa, e imaginou que se safaria sem que fosse notado, mas alguém que sabia do ocorrido, avisou Bimbo que o camarada que devia para ele, estava na fila do Banco Bandeirantes.
Bimbo que não deixava passar uma oportunidade de acertar as coisas à sua maneira, foi até sua oficina, passou a mão em uma corrente de argolas da grossura de um dedo, a enrolou no braço, como quem enrola uma corda, e desceu ao Banco sem dizer a ninguém, com o coração a pulsar no pescoço, e o rosto cor de vinho.
Ao chegar na porta do banco, enxergou o tal lá dentro, e, instintivamente o tal também olhou para trás e viu Bimbo com a mão para trás, segurando alguma coisa que ele não divisou o que era, mas com certeza pensou: – E agora o que faço? Estou frito!
Depois de ser informado que não havia em sua conta, nenhum dinheiro a sacar, o camarada malandramente com lágrima nos olhos, quase chorando cumprimentou Bimbo, e passou a relatar as dificuldades pelas quais vinha passando, problemas familiares, desemprego, filhos doentes, e agora sem dinheiro até mesmo para voltar para sua casa, e sem poder levar nem mesmo o leite das crianças…
Bimbo, que apesar de ser enérgico, bravo mesmo, tinha um coração de ouro, tanto que depois de ouvir todas as lamúrias da pessoa que lhe faltou com a palavra, enfiou a mão no bolso, pegou a carteira, e deu-lhe o dinheiro da passagem de volta ao amigo, e ainda uns trocados para o leitinho das crianças.
Por isso e muito mais, Napoleão Braggion, tratado carinhosamente por todos como Bimbo será sempre lembrado com saudades por aqueles que o conheceram, conviveram, ou trabalharam com ele, como alguém que só deixou boas recordações.
(Na sequência da foto acima: Serrano, Cesarin, Bimbo Bragion e Bepão, vendo o que que restou da usina de força da Fazenda Santa Rita que foi levada pela enchente de 1970)