Resolvi escrever sobre as curiosas crendices a respeito do conhecido “Santo Casamenteiro”.
Dentre as lendas sobre seu cognome, uma delas diz, que uma jovem napolitana pobre, não tinha dote para casar-se.
Ajoelhou-se aos pés da imagem do Santo com fé, e milagrosamente, a imagem entregou-lhe um bilhete e falou para ela entregar a certo comerciante.
O bilhete dizia que o comerciante devia dar à moça, em moedas de prata, o equivalente ao peso do papel.
Novo milagre: precisou 400 escudos de prata para tanto; o que seria igual à oferta que o comerciante havia prometido ao Santo e não pagara.
Foi a maneira de Sto. Antônio cobrar a oferta prometida e possibilitar o casamento da jovem. S. J. Antônio Vieira foi um dos mais fervorosos adoradores de Sto. Antônio, a quem chamava de “Santo Universal”.
Ensinava que Sto Antônio, “sendo um só, é todos os santos juntos porque era patriarca, profeta, apóstolo, mártir, confessor e virgem”.
(Ele) “foi tão grande, que Cristo, diante dele, parece pequeno”, Vieira comparou Sto. Antônio ao sol e Jesus Cristo como uma candeia, porque o santo, com um só sermão converteu 222 ladrões, enquanto Jesus, na cruz converteu somente um ladrão. (Liberdade Por Um Fio, 112).
Sto. Antônio, de Pádua (cidade italiana) nada tinha de italiano, nasceu em Lisboa (Portugal) em 15 de agosto de 1195, e seu nome verdadeiro era Fernando Bulhões.
Um agostiniano, mestre em teologia, que como penitência foi ao Marrocos, terra da barbárie, para converter os infiéis muçulmanos.
Combateu os hereges albigenses na Itália e França e ganhou as alcunhas de “Martelo dos Hereges”, “Profeta que encontra as coisas perdidas”.
Os bolandistas (jesuítas, seguidores de João Boland, contadores das histórias dos padres – “contos do vigário”) – coligiram mais de 50 milagres de Santo Antônio: ressurreições, controle das forças da natureza, curas…
Certa vez converteu um sapo num frango e outro frango, num sapo, a fim de confundir um heresiarca; fez um recém-nascido falar para defender a honra de sua mãe; tinha o dom de bilocação, como no caso em que esteve em Milão e em Lisboa simultaneamente, a fim de salvar seu pai da forca.
Noutra feita um noviço fugiu do convento levando um precioso saltério (hinário). Por intercessão do Santo, o próprio Diabo apareceu em figura ao fradinho fujão, e o ladrão sacro voltou arrependido trazendo o pergaminho.
Os bolandistas asseveraram que “Deus destinou a Santo Antônio restituir aos seus legítimos donos as coisas perdidas ou roubadas” (Idem, 114).
Segundo Reis e Gomes ‘Santo Antônio é o maior dos nossos santos, particularmente honrado na Bahia’.
Os bolandistas afirmaram que quando os franceses vieram tomar a Bahia, passaram por uma possessão portuguesa, na África, e roubaram uma imagem de Santo Antônio para escarnecer.
Então veio sobre eles terrível tempestade, destroçando-os.
A imagem lançada ao mar veio à Itaporã, onde foi milagrosamente encontrada em pé na praia, sem que mão alguma a levantasse, e levada por Francisco D’Ávila para a Igreja da Ajuda, e daí para o convento de S. Francisco, em procissão, no dia 23 de agosto de 1595, onde ganhou o título de Padroeiro da Bahia (Idem, 118).
Frei Antônio F. Jaboatão, cronista franciscano relata que no lugar onde os calvinistas golpearam com facão, a imagem de Sto. Antônio vertia sangue verdadeiro, ocorrendo igual milagre com outras estátuas do Santo nas capelas do Engenho Velho e na Freguesia da Vargem por ocasião da luta contra os holandeses em Pernambuco.
No final do séc. 16 e início do 17 Sto. Antônio tornou-se soldado (morto em 13/6/1231), e apareceu entre os soldados portugueses defendendo a Colônia dos invasores protestantes, participando do aprisionamento dos escravos fugitivos, sendo destaque na guerra contra os quilombos.
Por essas ajudas, recebeu 15 promoções em diferentes capitanias. Em 1705 foi promovido a capitão diante do comando do Batalhão de Sto. Antônio.
Em 1709 ganhava, na Paraíba, um salário de $ 30.700 soldos; em 1717, em Pernambuco foi patenteado tenente.
Em 1750 recebeu soldos em Goiás. Auferiu salários num total de $480.000 das capitanias de S. Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. D. João 6º (1814) outorgou-lhe a Grã Cruz da Ordem de Cristo e doou-lhe uma rica bengala, de seu uso pessoal, contendo 84 rubis, 72 crisólitos e ricas incrustações em ouro e tartaruga (Liberdade por Um Fio, 120,121).
ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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