Abordaremos, dentro do tema, um dos capítulos mais tétricos e vergonhosos da Igreja Católica e da humanidade, a “Santa” Inquisição, ocorrido na Idade Média. Desde 538 até 1798, um período de 1260 anos, papas e clérigos, dedicaram-se a condenar protestantes e criptos protestantes a horrendo morticínio.
O Papa Lúcio 3º, no Sínodo de Verona, em 1148, tomou as primeiras medidas oficiais da Igreja contra os cátaros. Padres e leigos, uns vigiavam outros e terceiros a estes, bastava ler a Bíblia ou dizer “graças a Deus” (omitindo graças à Maria), para ser torturado até à morte. Investigavam e interpretavam até o pensamento das pessoas (processo copiado por Hitler) (Novinski, Inquisição, 9).
Difamavam seus oponentes como criaturas do Diabo, com um só olho na testa, e 4 fileiras de dentes pretos, a fim de causar aversão do povo a eles (Do Imaginário à Sta. Inquisição, 174). O Papa Inocêncio 3° criou as terríveis cruzadas em 1189 e foi pessoalmente ao combate para abater os “hereges”.
O Concílio de Latrão em 1215 iniciou uma ofensiva mais drástica contra os judeus e árabes. O Papa Gregório 9º criou, em 1233, o Tribunal do Santo Ofício. Em 1235 o Concílio de Arles ordenou que os judeus usassem um remendo amarelo no seu peito a fim de serem identificados.
Foram proibidos de frequentar faculdades, corporações profissionais e outras atividades. Muitos se diziam cristãos, até batizavam-se (cristãos novos), mas alguns foram mortos por praticarem o judaísmo ocultamente, ou por não terem o sangue limpo (sem uma gota de sangue judeu); em 1391 houve o pior massacre até então.
Papa Sisto 4°, (1478) autorizou aos reis da Espanha nomear inquisidores, e Frei Alonso Hojeda celebrou a missa (1481) comemorando o primeiro auto-de-fé antes de queimarem vivas 6 pessoas (Inquisição Espanhola, 49). Os papas Inocêncio 3º, Gregório 9º, João 22º, Clemente 6º, Inocêncio 8º foram os mais sanguinários.
Espanha e Portugal serviram de palco das mais horrendas perseguições dirigidas pelos dominicanos e depois pelos jesuítas. Em sua gestão, o Frade Tomás de Torquemada, o carrasco mais temível, “Martelo dos hereges”, condenou à fogueira mais de 2000 judeus.
Torturas inimagináveis tais como: derramar chumbo derretido na garganta do “herege”, queimar vivo, empalar, esticar com cordas até arrancar-lhe os membros, serrar a vítima lentamente, colocar o condenado dentro de boneca com dezenas de facas que o cortavam em muitos pedaços, emparedar vivo, amarrar a vítima em cadeira de ferro com pregos sobre fogo lento e outras tantas torturas. Procuravam interpretar o pensamento dos hereges, dos seus descendentes, ou daquele que se apresentasse limpo e bem vestido no sábado.
Nenhuma linguagem é capaz de descrever a crueldade da demoníaca “Santa Inquisição”, judeus e árabes chamavam-no “tribunal diabólico”. Conde Campomanes disse que a Santa Inquisição ligada aos jesuítas era o organismo mais fanático existente.
D. João 3º deu ao Papa 800.000 cruzados a fim de obter licença para instalar a inquisição em Portugal (1531). Cinco anos depois, o Papa Paulo 3º, pela bula “Cum ad Niihil Magis”, concedeu a Ignácio de Loyola, o revigoramento da inquisição portuguesa. Até 1684 queimaram 1379 pessoas.
No concílio de Trento (1545-1563), liderado pelos jesuítas, decidiram entre outras deliberações que o Papa é supremo, acima do próprio concílio; a Igreja Católica é mãe e mestra das demais; só a Bíblia Vulgata seria aceita para leitura do clero, contudo, proibida aos leigos. Consequentemente o Index (comissão de censura de publicações (1564) decidiria quais livros poderiam ser impressos, vendidos ou lidos.
Obras dos iluministas, de Erasmo de Roterdã; Gil Vicente, Camões, Bocaccio, Shakespeare, Maquiavel, Rabelais, Pedro Abelardo, Cervantes, Vieira, Molieère, Van Dick, Rembrandt, Racine e de muitos outros foram proibidas. Burns diz que foi um século de infertilidade literária imperdoável, risível se não fosse insuportável.
Os livros eram sujeitos à censura episcopal, à da Inquisição e das autoridades civis, além do “imprimatur” da Cúria Romana. Nelson W. Sodré relata que mais de 30 mil dos intelectuais, da mais fina flor foram vitimados (Hist. da Imprensa no Brasil, 11-12). Bíblias e livros foram queimados aos montes. Editar livros, mesmo os didáticos, era tido como heresia e atração de maldição. Se, em Portugal e Espanha havia essas censuras, em suas colônias era pior.
ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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