Solano Portela, filósofo presbiteriano diz: “O ser humano, desde o princípio, conheceu os propósitos de Deus através da lei. Tendo quebrado a lei, ele tornou-se réu da mesma e recebeu a clara condenação proclamada pelo Criador: a morte”. Ele cita A Confissão de Fé para dizer que a Lei tem três aspectos, Civil (define crimes e punições), Cerimonial (sobre as festas e sacrifícios que prefiguram a vida, sacrifício e morte de Cristo) e Moral (sobre a ética moral). Os dois primeiros aspectos foram abolidos, enquanto o moral, (dez mandamentos) que representa a vontade divina e orienta o comportamento e deveres humanos, continua em vigor. Digo, há várias leis (não aspectos da Lei) civil, higiene, sacerdotal, cerimonial, moral. O 4º mandamento: “Lembra-te do dia do sábado para santificar é parte integrante da lei moral (Ex 20:8-11), indivisível (Tg 2:10) determinado por Deus para lembrarmos que Ele criou o céu e a Terra em seis dias, descansou no sétimo e o santificou. O sábado foi dado para comemorar a criação. Samuele Bacchiocchi, doutorado em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana escreveu que a estrutura literária de Gn 1:1 a 2:3, é de assombrosa simetria em torno do “7”. Segundo ele, no hebraico, cada verso tem 7 palavras; o v 16 tem 14 (2 vezes 7); o 7 não é só repetitivo, mas “é a chave da estrutura literária de todo o relato”. Moisés separa os seis dias com “foi a tarde e a manhã” até alcançar o ponto culminante da criação, o “sétimo dia”. Como se sabe, o número 7 é o símbolo de completude e perfeição, portanto, o sábado é uma comemoração da perfeita criação de Deus. Esta declaração é corroborada por Nicola Negretti ao dizer que o número 7 era usado como símbolo de plenitude e perfeição pelos israelitas e por vários povos do oriente, como na literatura sumério-acadiana e ugarítica, com esse mesmo sentido. Arqueólogos encontraram uma tabuinha em ugariti com essa declaração (Reposo Divino para La Inquietud Humana, 64).
No hebraico sabat (sábado) da semana da criação significa cessação do trabalho, descanso de Deus no sentido de conclusão, contemplação e alegria pelo trabalho realizado (Gn 1:31) “Viu Deus o que tinha feito, e que era muito bom”. Muitos teólogos, como Karl Barth, pensam da mesma forma. O Rabi Abraham Joshua Hesckel diz que devemos descansar no sábado como se todo o nosso trabalho estivesse terminado, deixando inclusive de pensar nele (O Sábado, seu Significado para o Homem Moderno, 32). Pacífico Massi diz que o homem, ao deixar o trabalho no sábado, torna-se um sacerdote a levar o amor e as bênçãos divinos aos semelhantes.
Outro propósito do descanso no sábado é a renovação da fé – base da crença cristã (Credo Apostólico: Creio em Deus, Pai, Todo poderoso, Criador do Céu e da Terra…), contrapondo-se ao materialismo, evolucionismo, secularismo e ao rebaixamento das criaturas feitas pelas mãos divinas. Serve também de testemunho eterno do poder, sabedoria e amor de Deus ao fazer a natureza bela, harmoniosa, afirma George Elliott. Isaias (58:13-14) diz que o sábado é delicioso, digno de honra, no qual não se deve trabalhar, falar palavras vãs, e trará felicidade àquele que assim o fizer.
Bacchiocchi chama a atenção para a santificação e bênção sobre o sábado e cita Negretti: “o sentido profundo da santidade e bênção do sábado em Gn 2 é com intuito de ser revelado no transcurso da história da salvação” (Reposo D. para la Inquietud Humana, 80-81). Isto se mostra claro em todo o desenrolar da redenção da humanidade. Cita o paralelismo entre os relatos da criação e do maná (Ex 16): ambos têm um marco de 7 dias, ressaltam a excelência divina, cada dia de criação “era bom” e a porção diária do maná era “satisfatória” (Ex 16:18); a criação e a chuva de maná encerraram-se no sábado (Gn 2:2 e Ex 16:25); em ambos os casos, recebiam a bênção divina no sábado, (Gn 2:3 e Ex 16:24); o sábado de ambos contém a bênção do sustento da vida, criando os alimentos (Gn 1) e conservando-os (Ex 16:24); na criação, o alimento simboliza Cristo, o Criador, Mantenedor e Redentor da vida, assim o maná representa Cristo que nos dá vida (João 6:31-35). Durante seis dias Deus os sustentava com o maná, mas no sétimo eram abençoados com a Palavra de Deus (Dt 8:3); era um meio de fazê-los voltarem-se para o Sustentador da vida. O sábado, era período santo no qual deixavam os labores e preocupações para estarem com o seu Deus e dEle receberem as bênçãos. O verbo hebraico Yegaddes (santificou) não se refere à coisa ou à pessoa, mas a um período de tempo, o sétimo dia.
Guardem o sábado porque servirá de sinal entre Deus e vocês de que Ele os santifica (Ex 31:3). Santificação é consequência da presença santificante de Deus (Obra citada, 85). Quando Moisés desceu do Sinai onde ficara 40 dias com Deus, a sua cara teve de ser velada porque refletia a santidade divina. Quando Deus apareceu a Moisés no pasto, disse: “Tira as sandálias porque este lugar é santo” (Ex 3:5). A presença de Deus na igreja, no lar ou na vida de alguém é santificante; busquemos a Sua presença!
ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.