23/02/2018
Avaliação e critério para Dorival no São Paulo
ARTIGO | Avaliar resultado no futebol é fácil. Qual a dificuldade em apontar que quem ganhou é bom e quem perdeu é ruim? Nenhuma! Prefiro, porém, buscar a todo o momento entender porque ganhou e porque perdeu. E entender as inúmeras variáveis do jogo, sendo que algumas são aleatórias e até incontroláveis, é um desafio gigantesco.
Entendo a pressão em torno de Dorival Júnior no São Paulo. Até concordo com várias críticas a execução das ideias e conceitos de jogo dele. Mas não consigo enxergar a troca no comando técnico como a solução imediata dos problemas.
Ainda há uma dificuldade em se enxergar o conceito de equipe no Brasil. Temos a míope tendência de avaliar prematuramente uma escalação no papel e achar que bons jogadores juntos formarão uma boa equipe. Só que esquecemos que na concepção de time a característica de um indivíduo deve potencializar o que seu companheiro tem de melhor. E nisso necessariamente os melhores não se complementam. É simples e didático entender: um time com os três melhores atacantes do mundo porém os zagueiros do último colocado da última divisão da Finlândia formariam uma boa equipe?
O São Paulo tem excelentes jogadores. Mas todas as contratações foram feitas aleatoriamente. E não para formar um time. Dorival Júnior é bom treinador. Mas não é mágico. Para a consolidação de um jeito de jogar é necessário minimamente tempo de trabalho. Em um grau de evolução, o coletivo do São Paulo se encontra em uma posição 4 dentro de uma escala de 0 a 10. Por isso, a dificuldade em enfrentar equipes com jogadores inferiores tecnicamente, mas que como conjunto estão em um estágio mais avançado de evolução.
Se a diretoria tricolor virou o ano com Dorival é porque havia minimamente uma convicção no trabalho dele. Mudar agora, com pouco mais de um mês de temporada, é dar um tiro no pé e não compreender a dinâmica do processo.
Análise contextualizada
A tecnologia mudou o mundo e por tabela mudou o futebol. O número de informações que se gera de um jogador, de uma partida e de uma equipe é estratosférico. Se antes o empirismo, o achismo ou o chamado ‘olho clínico’ imperavam hoje não se pode mais analisar um jogo ou até mesmo o mercado da bola sem informações fidedignas.
Posto isso, vem o mais importante: o conhecimento de quem analisa essas informações geradas e a sensibilidade para contextualizar os números em um contexto mais amplo formam a parte mais importante e valiosa de todo esse processo.
Pegando, por exemplo, a análise de mercado: quando o Palmeiras contratou por cifras milionárias o atacante Borja no ano passado criou-se uma expectativa gigantesca em função dos números. Uma passada de olhos nos gols marcados por ele no segundo semestre de 2016 garantia que cada centavo gasto havia sido bem pago. Mas em algum momento se analisou qual o modelo de jogo que privilegiava as características de Borja fazendo com que ele fosse a rede tantas vezes? O Palmeiras teria esse mesmo modelo? Observação: o Verdão teve três treinadores no passado (Eduardo Baptista, Cuca e Alberto Valentim). Cada um com uma ideia de jogo.
Sem falar no aspecto emocional e comportamental. Fizeram essa análise? Borja tinha ido para o futebol italiano, mas voltou rapidamente para a Colômbia por não se adaptar. Como foi a adaptação dele no ano passado com a cultura, clima e idioma aqui no Brasil? Isso pode explicar muito o desempenho de um atleta dentro de campo.
Contratar os melhores nomes do mercado não garantem a formação de um grande time. São inúmeros aspectos a serem analisados em cada contratação, permanência de jogador e até transição de quem está chegando da base. Os números frios não vão responder as perguntas certas que devem ser feitas. Não é só o técnico, nem só o tático, nem o físico e nem o emocional. O todo é maior que a soma das partes. O valor maior não está na informação. E sim no conhecimento para avaliar o que é mais adequado ao momento.