Rubinho de Souza

“As pombas”

Dia desses, caminhando com meu amigo Marcos Gimenes, começamos a abordar o assunto de quando se é jovem, todos temos muitos sonhos que acabam se desfazendo como castelo de areia, enquanto outros com o passar do tempo, são abandonados e sequer saem do papel, mas que tudo isso são de fases da vida, pelas quais todos os seres humanos transitam.

E, concordamos que à medida que avançamos na idade, transmudamos nossos projetos de vida para aqueles mais comezinhos, dada a efemeridade da nossa vida e o sentimento de transitoriedade do tempo que carregamos em nós…

Nessa conversa toda, meu amigo de caminhada me perguntou se eu já havia lido o soneto “As pombas” ao que respondi que sim, pois no meu livro de escola tinha esse soneto, que depois que o li, nunca mais esqueci, cujo autor é Raimundo Correia.

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Chegando em minha casa, corri para procurar o soneto e transcrever aos meus amigos leitores que acompanham esta coluna.

Imagem: Reprodução internet

O tema do soneto é inicia-se falando do revoar das pombas ao raiar do dia, estabelecendo uma comparação com a nossa juventude e a volta das pombas ao cair da tarde, fazendo alusão à nossa velhice, usando de retórica com as fases da vida humana.

A pomba, ave escolhida pelo autor é traduzido como símbolo de pureza, de paz e de elevação espiritual, e como os demais pássaros, é sinônimo de liberdade e de conexão do céu com a terra, visto que frequenta os dois ambientes no mesmo dia.

Os versos carregam forte preocupação existencial e uma profundidade psicológica, com viés pessimista, pois neles o autor conclui que enquanto as pombas efetivamente voltam para os pombais, em nossa vida, os sonhos não retornam mais aos nossos corações…

Sem mais delongas, vamos aos versos que são uma obra prima:

Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada…

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

Leia e releia o soneto acima, reflita sobre a mensagem que ele traduz e nunca abandone seus sonhos.
Ao contrário, corra atrás de cada um deles, até que se tornem realidade…logo do fundo do baú raffard

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