O mestre José de Almeida que, para nós capivarianos, era chamado de “Zé de Armeida”, filólogo de primeira linha, primava pelo estudo profundo da língua portuguesa e sempre nos orientava da necessidade de saber colocar perfeitamente a palavra correta no texto ou a sua coerência para com a perfeita oração.
Assim é que aprendemos a falar e a escrever a nossa língua, com certa desenvoltura, muito embora tenhamos que dizer que somos dados aos escorregões costumeiros. Por isso que a advertência do saudoso mestre nos vem a martelar em nossa mente: – Faça revisão do que escreve! Faça revisão do texto! Tantas vezes quantas sejam necessárias!
Aqui descrevemos alguns fatos que dizem muito a respeito dessa afirmativa importante, para que não caiamos no ridículo de dizer asneiras.
Na então União Soviética, parece-nos que foi o extrovertido Nikita Kruschev, que certa vez falou que o horizonte da fartura, na URSS, estava bem próximo. Um moscovita atento, foi ao dicionário para saber o significado do verbete “horizonte”. E lá encontrou a definição: “Linha imaginária que, quanto mais se deseja dela se aproximar, mais distante ela fica”. Portanto, emprego errôneo da palavra.
Velho amigo nosso, já falecido, possuía um bar em Capivari, na rua Sinharinha Frota. Lá se produziam sorvetes de todas as qualidades, até de sagu e feijão. Certa feita, encontramos com ele, em Capivari, que havia chegado, naquele momento, de Rafard. Perguntamos: – Caro amigo, você veio de ônibus? A resposta foi rápida: – Não. Vim anexo ao taxista. Estranhamos a utilização do uso da palavra anexo. Consultamos o dicionário: Palavra que significa “junto de”. Contudo, colocação imprópria na oração.
Idos tempos de propaganda política em cima de caminhões. Era assim antigamente. Baixavam-se as guardas do veículo e lá se desfilavam em promessas e mais promessas.
Conhecido prefeito fazia a apresentação do seu sucessor, em palavras de carinho, admiração e apreço.
Exaltava incontáveis qualidades. Mas, ele mesmo, as possuía aos borbotões. Um certo candidato, que se somava ao prefeito, desejava também enaltecê-lo de virtudes havidas em seu mandato. Em dado momento, empolgado com os rasgados elogios, fez a sua reflexão final: – “….e não sei como não passou na cabeça dos cidadãos capivarianos, erigir um mausoléu em homenagem a este prefeito que ora encerra seu mandato”.
A perplexidade foi total, pois bem sabemos que mausoléu é onde se encontra os restos mortais de figuras proeminentes expostas à visitação pública. Que escorregão!
Há uma infinidade de exemplos gritantes como, para ilustrar ainda mais estas observações, temos: quando alguém deseja comprar remédio para barata, deseja esquentar o sol, deseja sair para fora, deseja entrar para dentro – coisas estas classificadas na gramática da língua portuguesa mas que, infelizmente, utilizadas largamente.
O importante para todos é saber e possuir a coerência de utilizar o termo certo na oração. Só assim haverá a perfeita compreensão.
ARTIGO escrito por J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador
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