Com dias cada vez mais quentes e temperaturas na casa dos 30 graus, as sombras das árvores são aliadas preciosas que ajudam a amenizar a sensação de calor tão forte nas ruas.
As árvores funcionam como um “ar-condicionado natural”. Elas deixam o ambiente mais fresco e úmido, por isso os locais arborizados são os mais agradáveis nos dias mais quentes.
Na última terça-feira (21) foi lembrado o Dia da Árvore, e para comemorar, várias mensagens e gestos simbólicos marcaram a data, mas isso ainda é muito pouco perto da escassez de árvores nas áreas urbanas.
O biólogo capivariano, Diogo Pavan Gatti, é especialista em Arborização Urbana. Ele afirma que o percentual de áreas arborizadas em cidades como Rafard e Capivari ainda está muito abaixo do ideal. As duas cidades estão entre os municípios do interior que mais sofrem com a falta de árvores no meio urbano.
Os dados são da Resolução SMA nº 07 de 2017, que revela o percentual de cobertura nativa de Rafard, com apenas 10,2%, e de Capivari, com 9%. As porcentagens também são as mesmas no Inventário Florestal do Estado de São Paulo.
“As duas cidades estão numa classe com índice muito alto na necessidade de restauração. É um baixo percentual em Capivari e Rafard, tanto para a cobertura arbórea, quanto em número de árvores na cidade”, diz o biólogo.
O profissional aponta outro agravante que afeta diretamente a qualidade de vida ambiental das cidades. As Áreas de Preservação Ambiental (APP) já não são suficientes. Gatti explica que as APP’s possuem papel de extrema importância nas áreas urbanas, mas, além delas, é preciso o complemento com o plantio de árvores em praças, ruas, avenidas e terrenos.
“É preciso trazer os espaços arborizados para cada vez mais perto da população, pois as árvores trazem inúmeros benefícios ambientais”, lembra o especialista.
Outro ponto preocupante, que interfere diretamente no baixo nível de arborização nos municípios, é o crescimento urbano. Segundo Gatti, é preciso que as prefeituras criem planos de arborização com normas mais rígidas, e que sejam adotados critérios mais rigorosos para a aprovação de projetos de construção de imóveis e loteamentos.
Uma das saídas, segundo o biólogo, é a criação de Conselhos Ambientais ativos que possam tratar das questões de arborização urbana com planejamento eficaz.
Tão necessárias nas áreas urbanas, as árvores são também fundamentais nos leitos dos rios. Na mata ciliar, que é a cobertura vegetal nativa da margem dos rios, as árvores servem como uma proteção. “Elas que fazem a manutenção da qualidade da água, conservam a biodiversidade e estabilizam o solo, é como se fossem os cílios que protegem nossos olhos”, compara o biólogo.
Rafard
No quesito Arborização Urbana, a Prefeitura de Rafard, por meio da Divisão de Meio Ambiente, informou que já deu um passo importante desde o início da nova gestão. Trata-se da aprovação da Lei 1920/2021, que prevê o Plano Municipal de Arborização Urbana, plano este que está em fase de conclusão.
De acordo com o setor, a próxima etapa é o diagnóstico das árvores já existentes, que vai compor o inventário local da arborização urbana em Rafard.
Na prática, a previsão dos resultados do Plano de Arborização é a longo prazo. “A maturidade de uma árvore depende de sua espécie, e pode variar muito. Os resultados na percepção da mudança na qualidade de vida com o plano de arborização podem levar até 10 anos”, explica Natália Sampaio Santos, chefe da Divisão de Meio Ambiente.
Sobre as ações concretas dos últimos meses, a pasta informou que foram feitos plantios em áreas de APP e áreas verdes do município. Estão previstos ainda, plantios nas áreas de preservação do córrego São Francisco e Rio Capivari, e em mais áreas verdes e vias públicas do município.
Entre os projetos futuros, a prefeitura informou que está em estudo a implantação de um viveiro municipal de mudas para atender o plantio em pequena quantidade, como a que pode ser feita por moradores, e os plantios de maior demanda, através do Departamento de Meio Ambiente.
Capivari
Em Capivari, a Diretoria do Meio Ambiente informou que até o momento, a prioridade na arborização é a região central da cidade. “Com a frequência das altas temperaturas, o projeto de arborização consiste no plantio contínuo de árvores em calçadas, pois os dias estão cada vez mais quentes e com muito calor”, explica o diretor de Meio Ambiente, Guilherme Campos Pagotto.
Segundo Pagotto, nos últimos anos, o município deu prioridade às áreas próximas dos rios e nascentes, em cumprimento ao Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRA).
Na última semana, a diretoria iniciou a discussão de projetos, com a Câmara Municipal, para a recuperação de nascentes e corpos hídricos.
Capivari mantém um viveiro de mudas para doação aos moradores que queiram fazer o plantio de árvores em seus quintais e calçadas. De janeiro a agosto deste ano, já foram doados mais de duas mil mudas de espécies nativas.
Árvores, pássaros e ipês na São Bernardo
Uma das práticas da Abaçaí Cultura e Arte, desde que assumiu a Fazenda São Bernardo, em 2014, é a preservação ambiental de toda a extensão da fazenda, e um dos cuidados principais, está proteger as árvores.
Além de cuidar das árvores que já eram parte do patrimônio, centenas de novas mudas foram plantadas nestes sete anos de trabalho da Abaçaí em Rafard.
Boa parte das mudas já cresceram, e hoje são árvores, ainda jovens, que ajudam a deixar a paisagem da São Bernardo ainda mais bonita. Além da beleza, tem também os benefícios como o retorno dos pássaros.
“Desde o primeiro dia em que chegamos na São Bernardo nós plantamos mudas de árvores, e várias espécies de pássaros já voltaram a povoar a fazenda”, conta Toninho Macedo, presidente da Abaçaí.
Entre as árvores já crescidas, podem ser vistos os jerivás em frente à Capela, e com eles, voltaram os tucanos e os jacus, aves, antes desaparecidas, que agora estão de volta na Fazenda São Bernardo.
Mudas de Ipês amarelos, roxos e brancos também foram plantadas, e os próximos plantios vão reforçar as árvores frutíferas, outra caraterística marcante da São Bernardo, que abriga mais de 70 jabuticabeiras.
Um outro projeto da Abaçaí é estender o plantio de árvores para além das áreas da fazenda. A ideia é criar um mutirão para plantar ipês por toda a extensão da avenida São Bernardo, começando desde a rotatória em frente à Estação Sorocabana, seguindo até a entrada da Capela, já dentro da área da fazenda.
“O ipê é um marco em Rafard, e a Avenida São Bernardo pode ficar conhecida como a Avenida dos Ipês. Acredito que um diálogo mais aberto com a nova gestão municipal vai possibilitar a retomada deste projeto”, explica Toninho.
Sobre o plantio na extensão da avenida, a prefeitura, por meio da Divisão de Meio Ambiente, afirmou que tem conhecimento do projeto, porém é necessário avaliar as condições técnicas para viabilizar o mesmo. Não foram informados prazos para o início destes estudos.