A repetição de um comportamento cria e estabelece rotinas ou hábitos. Quando um hábito é bom, ele se torna uma virtude e, quando não, ele acaba virando um vício.
A repetição também é a forma para desenvolver e aperfeiçoar características próprias da natureza humana. Por natureza, temos a capacidade de andar, mas para adquirir um bom condicionamento físico é preciso treino e esforço.
O mesmo se aplica à capacidade de falar e, se alguém quer cantar, precisa aplicar-se com dedicação, treinando a voz. Portanto, aquilo que cultivamos como prática contínua marca nossa vida.
Aquilo que vale para a nossa realidade humana deve, de alguma forma, também valer para nossa realidade espiritual.
Mas isso não acontece naturalmente, é preciso exercitar a vida espiritual e a prática do amor. Quando alguém recebe um ato de violência, por pequeno que seja, a reação natural parece ser a repetição da violência, no mínimo, na mesma medida.
Pode parecer natural rejeitar a quem nos despreza ou recusar fazer o bem a quem agiu mal conosco. Na realidade, esse comportamento natural está presente no cotidiano das nossas vidas e nem nos damos conta disso. Então, como uma pessoa de fé reage diante dessas circunstâncias e de fatos cotidianos?
A fé cristã não se sustenta como espiritualidade desencarnada, apontando somente para uma realidade celeste, buscando oferecer ao crente alívio ou consolação nas suas tribulações. A fé cristã tem como ponto de partida o Mistério Pascal de Cristo.
Ao assumir a natureza humana, Jesus, o Filho de Deus, assumiu também nossas dores e angústias, e por seus gestos e palavras indicou o caminho que torna possível romper com o mal e agir de outra forma.
Exatamente por isso, a fé cristã estabelece uma relação direta e íntima com a vida. Quando não existe essa relação, acontece o escândalo, que compromete a autenticidade da vida cristã.
Aquilo que Jesus ensinou sobre o amor e a misericórdia vai além de um comportamento social, de uma reação pacífica ou de uma prática humanitária.
O pecado tem uma força que nos impele e direciona as nossas reações, e essa é a causa do mal que experimentamos em nós e que também fazemos os outros experimentarem. Porém, para vencer esse mal não é suficiente um bom propósito, precisamos primeiramente da graça de Deus e da perseverança. É isso que constitui e sustenta a vida espiritual, abrindo o caminho para a conversão.
O avanço nesse caminho deve corresponder a uma mudança de atitudes, e quem foi encontrado pelo amor de Deus, não pode dar outra resposta que não seja o mesmo amor. Amar os inimigos não é um ato heroico, fruto de um treinamento da vontade, mas é um fruto de conversão.
Da mesma forma como experimenta a misericórdia que perdoa, o cristão é convidado a exercitar a força do perdão e da reconciliação. Na história da Igreja, encontramos muitos exemplos de homens e mulheres que fizeram esse caminho de santificação, seguindo a Cristo.
Para os discípulos de hoje, permanece o desafio do seguimento e do testemunho do amor e da misericórdia.